FANTÁSTICAS HISTÓRIAS DA GUERRA DO ALEMÃO
Pelo twitter, jovem passa a ser correspondente da guerra no Alemão
Seu objetivo é chamar a atenção para condições precárias da comunidade.
Em nome de sua família, ele pede paz; leia relato do jovem feito para o G1.
(Foto: Aluizio Freire/G1)
Um jovem de 17 anos se tornou repentinamente uma das maiores celebridades e repórter em tempo real dos conflitos no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. Morando em uma pequena casa no Morro do Adeus, em frente à área de conflito, Renê assistiu a cada passo da operação e passou a postar os acontecimentos no twitter "Voz da Comunidade". De 180 seguidores, no sábado, às 9h30 desta segunda-feira (29) já alcançava quase 22 mil seguidores.
"Sempre tive vontade de fazer alguma coisa pela minha comunidade. As pessoas que vivem aqui são sofridas, não têm direito a nada, tudo é precário. Pedi ajuda no colégio para fazer um jornalzinho e para reproduzir com xerox. Me ajudaram. Depois, ganhei um laptop usado e comecei a postar tudo no twitter. Não pensei que ia ter tanta repercussão", conta ele.
A repercussão ganhou espaço na mídia, e o rapaz passou a ser requisitado para dar entrevistas em jornais, rádios e emissoras de televisão até do exterior. Ágil no computador, ele reponde às mensagens de todos os seguidores, a maioria comentando a repercussão de sua iniciativa. Uma das admiradoras e que convocou a todos para seguirem a "Voz da Comunidade" foi a autora de novelas Glória Perez, em seu twitter.
Medo e orgulho
A avó do rapaz, Nancy, de 57 anos, 40 deles morando na comunidade, foi uma das mais preocupadas, no início. "A gente sempre fica com medo, né? Poderiam interpretar o que ele estava fazendo de outra forma. Todo mundo foi contra. Mas agora, estamos orgulhosos", disse.
A mãe, Cristina, de 38 anos, que tem outros dois filhos, um menino de 14 e uma menina de 8, também ficou com medo. "Nós conhecemos a realidade de violência dos moradores. Os tiroteios aqui são constantes, embora desta vez tenha sido uma coisa terrível. Várias vezes as crianças tiveram que ficar deitadas embaixo da cama por causa dos tiros." "Esperamos que as coisas mudem e que a gente tenha direito a ter paz", pede ela.
A pedido do G1, o rapaz escreveu um relato. Leia a íntegra abaixo:
"Eu comecei o jornal com 11 anos de idade, a ideia foi na escola Municipal Alcide de Gasperi. Eu resolvi participar do jornal escolar durante um tempo e logo depois me interessei e perguntei à diretora se eu poderia criar um jornal para a minha comunidade e se ela podia dar apoio e tirar as cópias.
Ela me deu todo apoio e fizemos as cópias. Consegui recentemente um notebook usado da secretária de comunicação do governo estadual e uso ele pra editar o jornal e twittar bastante!!!
Diante do que aconteceu na comunidade, comecei a publicar alguns acontecimentos da operação policial.
Comecei a publicar no meu twitter pessoal, e logo em seguida meus seguidores pediram pra eu colocar informações direto do @vozdacomunidade. Começou a ter repercussão depois que dois seguidores famosos divulgaram: Glória Perez (@gloriafperez) e o personagem do twitter Hugo Gloss (@HugoGloss).
Meu objetivo sempre foi prestar serviço à comunidade e ajudar de alguma forma. Usei a ferramenta do twitter para isso e vou continuar twittando porque precisamos de mais investimentos na comunidade, como educação, saúde, saneamento básico e segurança.
Esperamos que a comunidade receba mais investimentos do governo nesta comunidade, que na época em que eu criei o jornal apenas existia a associação de moradores como orgão público na comunidade. O governo ainda não tinha implantado as obras do PAC aqui na comunidade, era pouco comentado sobre o Morro do Adeus e o Alemão."
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