Será que dá tempo?
Luis Turiba
Saio de uma genial palestra de Sérgio Besserman na abertura do X Congresso do Meio Ambiente do Clube de Engenharia, e vou comer arroz integral no restaurante natureba da Cinelândia. Pensativo, macambuzo e um pouco tenso, dou minhas 33 mastigadas enquanto penso que o fim da vida inteligente está realmente próximo e nem nos damos conta. Ao contrário: pagamos as contas como se nada estivesse acontecendo e nem pedimos recibo. Realmente, Besserman tem razão: não há almoço de graça.
O economista ex-presidente do IBGE despejou convincentes e científicas informações sobre aquecimento do planeta, fim das geleiras polares, desertificação dos solos, emissão de CO2, avanços tecnológicos, extração de petróleo e os cíclos de cataclismas cósmicos que acontecem de milhões e milhões de anos com a natureza e o planeta. Ele nos convenceu que algo extraordináriamente caótico está anunciado e pautado para o nosso brevíssimo futuro. Suei frio.
Ao sair do almoço macrô – sim, pretendo estar o mais saudável possível para o fim do mundo -, num calor carioca de quase 36 graus, deparo-me com uma simpática horda de anarquistas ocupando a Cinelândia enquanto o tal fim do mundo não vêm. Já são quase 80 barracas ali, com mais de 200 jovens estudantes, artistas, fumadores de maconha e fiscais da natureza. É um movimento planetário de ocupação de espaços públicos. A mobilização é via facebook, não há lideranças, no máximo o monge tailandês Suvedananda dá lições de meditação grupal. Wall Street foi ocupada contra o capitalismo e agora é a vez da Cinelândia. Um perigo, pois podemos ficar sem carnaval.
Acho tudo muito misterioso, embora não acredite em coincidências: um "cabeção" como Besserman prega durante uma hora a "consciência cidadã planetária", deixando claro na maior instituição de engenheiros brasileiros que, se não pararmos i-me-di-a-ta-men-te com a exploração do petróleo, babáu: o planeta vai aquecer mais 2,3,4, 5 graus e a consequencia da brincadeira é imprevisível. Quase ao mesmo tempo, meninos e meninas vão à praça pública viver o aqui e agora sem rádio e nem notícias das terras civilizadas. Uma atitude revolucionária, sem dúvida, mas também sem esperança futura, sem sonhos pra logo mais à noite.
Um poeta do grupo Ratos Diversos pega um violão desafinado e canta em ritmo de rap um samba de Assis Valente: "anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar/ por causa disso minha gente lá no morro/ começou a rezar."
Penso nisso tudo, principalmente nas meninas e meninos, filhas e netos. Me pergunto: será que dá tempo?
9 comentários:
Oi Turiba: já havia lido em O Globo. Parabéns. O artigo é pertinente e bem-humorado como é do seu estilo.
Abraços,
Manoel Lapa
Muito bom, como nao tenho blog, passarei para os amigos.
abs
Fona
Turibinha, gostei do artigo, mas não temos é tempo de temer a morte..
Olha, vivi ontem, como flâneur, em frente à futura loja do Hermuche (defronte ao ex-Cabíria), um momento assim bicho grilo, mas de celebração, ao prazer, à curtição, à vida, sei lá a que. A rapaziada do momento sentada em roda, uma pequena fogueira no centro, ouvindo a Mãe da Lua e dois percussionistas cantarem mantras de Alto Paraíso. A cena parecia demodê, mas de repente é aquela história: dá tempo sim, pra tudo, tempo de pôr tudo na roda da sorte e viver. Enquanto há tempo. Porque todos estamos com o tempo contado. O planeta acabando ou permanecendo.
Ó nós dois encostados na parede do Galpazinho, em 1983 (?), que também na foto é agora e sempre, a eternidade e um dia, enquanto ela existir. Acabam de escaneá-la pra mim e te mando pra guardá-la aí também (e abro a roda pra compartilhar a resposta, da sua lista, com os meus mais chegados).
Com saudade docê.
Beijo, Angélica
Adorei Turiba!
Estou super envolvida com esse movimento!
Apareça mais um pouco por lá!
bjos
Alice
Perda de humor, jamais., mas duvido que dê tempo. :-(
Já pisamos na jaca até o encaixe da coxa.
Bj
Marcia de Almeida
PS:Parabéns pelo texto. Como sempre, ótimo!!
Turiba, Turiba, dê tempo, ou não dê tempo, nunca deixe de comer um bom chocolate!!!
beijo carioca. MElisa
Li a matéria, está maravilhosa, inclusive tenho uma amiga chamada Flávia Maggioli que me ligou às 8h da manhã para acordar e ler a matéria. Ela também adorou a matéria.
Beijos mis Irene
PARABÉNS TURIBA
FAN-TAS-TI-CO O SEU ARTIGO. QUE TALENTO,.................. PARABÉNS, PARABÉNS, PARABÉNS!!!
ABRAÇOS E MUITO OBRIGADA POR TUDO.
VIRGINIA
Meu caro amigo Turiba,
Fico feliz por ouvi-lo.
Esta causa não esta perdida, mas precisamos de interlocutores preparados igual a você para que nos desperte.
Forte abraço, foi um prazer" ouvi-lo".
Mauricio Gomes.
Enviado do meu BlackBerry® da TIM
Postar um comentário