quinta-feira, 13 de outubro de 2011

UM RIO DE SUSTOS, CHOQUE DE REALIDADE

 
Luis Turiba

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, a rua alagou, o bonde virou, a juíza morreu, o restaurante explodiu.

E agora, José, você que sofreu, você que pagou, você que explodiu, o que será do Rio?

Quando pensamos que chegamos ao fim do bueiro, ou melhor, do poço, vem algo pior e quase inacreditável. Depois que um comandante da PM urde, trama e arma sua horda o silêncio da justiça, assinando uma juíza do bem em plena luz do dia, o que mais podemos esperar de uma cidade que não consegue mais disfarçar sua crueldade-jardim?

 Sim, José! O Rio de Janeiro está gravemente enfermo. Está na UTI da civilidade e da razão. Precisa mesmo tomar um choque de realidade e verdade. De vergonha e de dignidade.  Abre o olho prefeito. Olha a nau, Cabral. Na subida do morro me contaram: há algo de fedido e muito pobre no reino da poluída Guanabara.
Como fazer uma Copa do Mundo sem abolir a Lei de Gérson? Quem paga o pato? Quem solta o bicho? Quem ganha no grito? Quem é mais esperto? O secretário que culpa o motorneiro do bonde ou o dono do gás explosivo que se hospitaliza para fugir do flagrante. Também quero o meu Nike. UPPs de TPM. Que recorde vamos bater nas Olimpíadas de 2016? O de desmandos, de corrupções, de desmantelos?
Chega de basta, José?
Ou restaura-se o mínimo de lógica, ou explodiremos todos no sol dos sem sentidos na Praça Tiradentes, no Corcovado, no Pão de Açúcar, no Maracanã, no Sambódromo, no Theatro Municipal.   

12 comentários:

Anônimo disse...

São verdades ditas com estilo. Uma pena que se tenha chegado a esse ponto. Parabéns pelo texto, Turiba. Um abraço, Alberto

Enviado pelo meu aparelho BlackBerry® da Vivo

Anônimo disse...

Boa, Turiba, ou o Rio toma tino ou a profecia dos Maias se concretizará e o Rio...
Fui embora daqui pq sentia que o bom senso e um mínimo de razão faltavam às autoridades, ao povo e à cidade.
Voltei e encontrei mais descaso com o transporte público, com os bueiros na rua, com a fiscalização etc e tal...
Dá vontade de ir embora prá ... sei lá, um lugar sereno onde as pessoas sejam respeitadas e a vida valorizada.
bjs
Jane Alencar

Anônimo disse...

Turiba:
Parabéns pela bela e crua crônica poética.
O Rio merece um mar que não seja de lama.
Abraços
Guido Heleno

Anônimo disse...

Luís;
Que beleza de texto.
Poético e crítico.
Não dá para publicar?
Ana Direne

Anônimo disse...

Turiba, volta para Brasília, porque lá a vida é menos perigosa.

Ouvi hoje do mineirim: Galinha que anda atrás de Pato, morre afogada...


Joca

Anônimo disse...

Magnífico, ficou explosivo seu texto. O estilo que eu gosto!!!!

Rafael

Anônimo disse...

o Rio esta anestesiado.Até quando ??

Claudio Barreto

Anônimo disse...

OI, Guido,
que maravilha de texto do sempre brilhante Turiba,que eu também tenho o prazer de ser amigo. Abs.Wílon

Anônimo disse...

Artur Pedro Ferreira de Souza para mim
Muito Bom Luis, Parabéns!


Traduziu o atual momento. Faz agora o do Turismo Tragédia, a nova modalidade de turismo no Rio.


Mandei este texto pra minha lista aqui do Rio.

Anônimo disse...

Turiba, velho de guerra; Tudo vai dar certo, pois Deus ainda é brasileiro. O grande choque de realidade vai acontecer. O VASCO vai ser campeão, vai ter meia entrada para assistir a copa, a PORTELA fatura o próximo carnaval, o verão está chegando e tudo vira uma grande alegria, viva... viva... o Rio de Jaaneiro.
Um gande abraço, belo texto.
Ivan Presença.

Anônimo disse...

Uma triste vergonha e uma vergonhosa tristeza... Haja, Turiba !...

Zuca Sardan

Anônimo disse...

Turiba,

você viu a marcha contra a corrupção em mais da metade do país? Pensei: será verdade? Será que alguns brasileiros foram realmente às ruas para pedir um basta na roubalheira, no favorecimento, na Síndrome de Imunidade Adquirida do poder no Brasil? Quase não consigo acreditar que tantos milhares de pessoas utilizaram um feriado no país do feriado para protestar. Foi tão impressionante que me senti envergonhado por não ter participado. Pior: por sequer saber que ela, a marcha, aconteceria. Soube só depois, vergonhosamente assitindo a um telejornal sem-vergonha de uma emissora safada que, nos inesquecíveis tempos da ditadura, nem teria feito a matéria. Ou a teria distorcido. Normalmente, quem fala em alienação é intelectual, no mínimo militante do PT, e se refere àqueles que não sabem o que acontece na política, no debate geral. Pois alienação não é mais privilégio dos iletrados. Chegamos a um ponto em que sabemos, sim, o que acontece. Mas insistimos em não fazer nada. Eu, inclusive. Descobri agora mesmo que não ligo mais pra política, que não leio jornal há anos, que não discuto porra nenhuma. Só penso em música, só faço música. Só penso em mim, no meu mundinho. Resisto em me aprofundar em qualquer assunto fora disso. O que me leva a ser um tremendo alienado. É por isso que, quando você pergunta em seu texto "e agora, José?", fico, para parafrasear Machado, "nácar", "coro de vexo", "a face enrubesce". Mas a marcha contra a corrupção pode responder parte de seus questionamentos: agora mostramos indignação. Vejo que, nas reuniões do FMI ou visitas de líderes americanos a outros países, sempre se vê um grupo de protesto com cartazes dizendo "fora, seu fdp", "chega da sua política, seu safado". No Brasil, isso sempre foi tarefa dos militnates de esquerda, quando ela existia. Na marcha, partidos políticos que tentaram pegar carona no evento foram vaiados. Puxa, saber que isso é verdade é o melhor de tudo. Não sei se continua, não sei se haverá outras, mas uma coisa eu sei: a saída é por aí. Só os indignados podem derrubar as muralhas do dominador. Foi assim contra o império romano, foi assim na revolução francesa. Assim será sempre. Claro, os tempos são outros. Não temos mais foices e martelos, não prendemos o rei e a rainha para enforcá-los em praça pública. Mas falamos bem mais e melhor, sabemos perguntar, e podemos acreditar que acreditar neles não dá mais. E o Rio de Janeiro, vitrine brasileira de todas os sucessos e tragédias - do rock'n rio à corrupção infecciosa da polícia e da política -, há de transferir a pergunta a quem de direito, em plena movimentação de copa do mundo de futebol e olimpíada: "E agora, Brasil?"

Um abraço,

Cakes