segunda-feira, 19 de novembro de 2012

FLORIAN THALHOFER ENCERRA OFICINA MULTIMÍDIA NO OI FUTURO FLAMENGO


PARA MULTIMÍDIA ALEMÃO, 

"FAZER CINEMA COMERCIAL É LOUCURA" 

ELE SE EMOCIONA AO FALAR DO BRASIL


Por Luis Turiba

 

Durante quatro dias - de 14 a 18 deste mês -, o documentarista e artista multimídia alemão Florian Thalhofer, inventor do sistema de criação Korsakow, um software onde é possível criar produtos audiovisuais quebrando a narrativa linear de contar histórias, está no Rio de Janeiro, onde ministrou oficina para cerca de 20 pessoas no Oi Futuro do Flamengo.


Florian Thalhofer veio ao Brasil convidado para participar da terceira etapa do projeto "Inter-Agir – no palco, na rua, na rede, na cena contemporânea", criado pela produtora Ana Lucia Pardo,com o objetivo de debater o uso de linguagens artísticas e experimentais na era cibernética.


Da oficina de Thalhofer, nasceram cinco projetos de filmes documentais: 1- O Pólo Indígena Maracanã, sobre indígenas que ocupam o terreno onde funcionou o Museu do Índio, próximo ao Maracanã; 2- um making of da própria oficina; 3- O trânsito no Rio a partir do Túnel Rebouças; 4- Uma história de amor; 5- Sonhos e suas múltiplas leituras.


A atriz e pensadora Sonaira D´Ávila, que prepara artistas para atuarem nos veículos audiovisuais e uma das coordenadores da oficina, acha que a vinda de Thalhofer ao Brasil preencheu um vazio no audiovisual brasileiro: "Ele apresentou um sistema que permite múltiplas visões de como podemos contar uma história e nosso país estava defasado em relação a isso".


O publicitário Patrick Accioly, 28 anos, também se entusiasmou com a oficina: "Florian não só criou um software que quebra os paradigmas do audiovisual, como também introduziu um novo conceito de se fazer arte. A própria internet funciona de uma maneira não linear. No hiper-link existe certa aleatoriedade, trabalha-se muito com a dinâmica fragmentada."


Outra entusiástica do software Korsakow é a inglesa Vik Birkbeck, militante de causas sociais e que coordenou o projeto sobre os índios que fundaram um pólo no antigo Museu do Índio no Maracanã. "O soft tem um formato simples e deve ser usado especialmente em transmissões on-line. Ele é totalmente interativo", diz ela.


O projeto que deixou Florian Thalhofer mais feliz foi o filme "Sonhos" de Vanessa Rocha, estudante de Artes Visuais da UERJ, em parceria com Cacau Borreto, ator e diretor de teatro. "Nos sonhos, a ordem dos fatores não altera o produto", afirma ele.


Para Vanessa Rocha, o software de Thalhofer "explora a estética do sonho. Assim, Korsakow e sonho formam um par perfeito. Vou levar essa lição para o resto da minha vida". Florian Thalhofer concordou com ela: "essa nova geração já nasce com o pensamento não linearizado."    


Leia agora a entrevista que Florian Thalhoder deu após as apresentações dos trabalhos pelos oficineiros.


ENTREVISTA


Pergunta- Qual o fundamento que sustenta o software Korsakow, apresentado nesses quatro dias aqui na oficina do projeto "Inter-Agir"? Onde nasceu e por quê foi criado?


Florian Thalhofer – O método Korsakow foi criador para desenvolver uma narrativa de filmagem não linear. Ele nasceu na Universidade de Artes de Berlim, onde estudei. Eu queria contar histórias pelo computador e não através dos métodos usados pelo cinema tradicional e comercial. Daí, criei esse solftware. Para mim, fazer cinema de uma maneira comercial é loucura. Disso tenho certeza.


Pergunta – O que muda para o espectador de filmes com narrativas não lineares?


Thalhofer - Ele é obrigado a utilizar muito mais o celebro do que quando assiste a um filme comum com início, meio e fim. Ele participa e tem que assumir a responsabilidade pelo que está fazendo. Sim, porque não tem uma estrutura pré-concebida. No sistema Korsakow não tem ninguém dizendo ao espectador como ele deve pensar o filme. E quando alguém diz o que você tem que pensar ao ver um filme, seu celebro fica preguiçoso.


Pergunta – Seu software já é conhecido mundialmente. Em que países você já fez oficinas como esta que aplicou aqui no Rio de Janeiro?


Thalhofer – O Korsakow está na internet para ser baixado por qualquer pessoa. Mas já estive pessoalmente compartilhando esse sistema no Canadá, Japão, Singapura, Lituânia, Estados Unidos, República Tcheca, Portugal, Itália e Países Baixos.


Pergunta – O que você achou dessa sua primeira oficina no Brasil?


Thalhofer – Aqui foi um pouco difícil porque eu não conheço a língua portuguesa. Talvez por isso mesmo tenha sido uma grande experiência e eu aprendi muito também. Esperava que tivesse um dia a mais, porque o processo criativo e de edição foi um pouco lento. No entanto, entre os projetos apresentados pelos participantes, teve um que foi maravilhoso e eu não tinha visto um resultado tão bom como esse nas outras oficina que fiz pelo mundo. Refiro-me a um filme sobre "Sonhos", apresentado por uma jovem que tem grande familiaridade com a tecnologia digital. Essa geração mais nova já nasceu compreendendo as novas maneiras de contar histórias.


Pergunta – E sobre a noite de abertura do "Inter-Agir", quando tivemos no mesmo espaço uma peça teatral transmitida pela internet; intervenções da atriz Sonaira D´´Avila; e um papo com o multimídia Giuliano Chiaradia sobre a utilização do telefone celular como um instrumento para fazer documentários artísticos, além da sua participação?


Thalhofer – Muito interessante. Penso que Giuliano mostrou aspectos diferentes do uso tecnológico do telefone celular. Ele usa esse instrumento como uso o software Korsakow. A revolução digital não afeta somente os artistas. Todos são influenciados pela nova tecnologia: engenheiros, médicos, professores, políticos, psiquiatras, advogados, vendedores, motoristas. Enfim, todos começam a explorar essas novas possibilidades.


Pergunta – E do Brasil, o que você leva de recordação e quando voltará por aqui?


Thalhofer – (o multimídia se emociona ao falar do Brasil. Seus olhos lacrimejam e ele pára embargado. Depois de alguns segundos, recomeça a conversa)...Meu avô foi casado com uma brasileira. Teve três filhos. Dois ficaram na Alemanha e o terceiro no Brasil. Isso para mim é muito estranho. Alguns parentes acabaram de falecer na Alemanha. E meus parentes brasileiros vieram me assistir na noite de abertura do projeto. Enfim, acho que a parte mais legal da família está no Brasil.  





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