terça-feira, 13 de novembro de 2012

UMA POESIA ELABORADA NO RITMO DAS MÁQUINAS




Uma poética lubrificada

 

"As birras são burras"

               Mauro Gama

 

O livro-máquina construiu-se por intermédio de uma engenharia de linguagens antropofagicamente devoradora como uma boca banguela da Baía da Guanabara.


A máquina-livro engole o leitor para alimentar-se de suas assembleias de neurônios que pululam pelas artérias de suas engrenagens.


Aquele leitor que não estiver azeitado para a travessia – refiro-me aqui a "musculatura leitora" daqueles que curtem poesia -, não fluirá nas ondas da rádio-atividade dos poemas-peças que, conectados, fazem a giringonça caminhar como o avanço da onça rumo a presa tonta. O livro-máquina é para leitores-operários.


É essa a leitura (não definitiva) que meus olhos-neurônios fazem do livro "Casa das Máquinas", de Alexandre Guarnieri – Editora da Palavra, 2011. São 185 páginas de textos concretos que poderiam ser sonetos alexandrinos perfeitos.


O livro nasce de um projeto meta-linguístico, onde o poeta-peão-operário trabalhou por mais de 15 anos seu maquinário, peça por peça, fibra por fibra, rima por rima. Como bem disse Mauro Gama no pósfacio do artefato, Guarnieri soube "eleger um campo semântico exclusivo, o da paisagem industrial e sua parafernália."


Guarnieiri montou sua plataforma poética tendo por base alguns cânones que funcionam como peças alavancadoras de seus textos. Na capa do livro, a clássica máquina de "Metropolis" de Fritz Lang esfumaçando gases poluentes e anunciando que a leitura não será fácil.


Alexandre Guarnieri escala como guias trechos de poemas de João Cabral de Melo Neto, Haroldo de Campos, Nelson Archer, Gregório de Matos, Ferreira Gullar, Mauro Gama, Álvaro Mendes. Esses funcionam como chaves de ignição para seus poemas lubrificados.


A partir de um simples poema – "Interruptor" – faz-se luz para a montagem do poemaquinário. Com o neon no bem bom, válvulas, discos, engrenagens, motores com seus cilindros, rebites, bitolas, parafusos; uma máquina de escrever aqui, outra de triturar ali; letras, garranchos, o milagre do gás na geofísica, o trabalho, a mais valia, a força operária, o patrão burguês; as cidades - a grande máquina urbana com suas neuras pneumáticas e as brutalidades jardins. Sim, a guerra do dia-a-dia, a guerra civil, o revolver, a bomba-relógio, o infarto, o estresse, a caixa preta, o ferro velho, o blecaute, o renascer da máquina anônima.


Guarnieri coloca seu leitor-proletário como um Charles Chaplin apertando parafusos para farão a máquina-livro digna da nossa microscópica leitura.

 




Nenhum comentário: