quarta-feira, 3 de abril de 2013

'INDI-VIDROS" DO CILDO - EM INHOTIM

Indi-vidros do Cildo

Luis Turiba

Ao caminhar sobre cacos de vidros em um ambiente asséptico e repleto de surpreendentes obstáculos desafiadores (cercas de arame farpado, grades, telas, aquários, barras, etc), na instalação "Através", de Cildo Meirelles, você torna-se também um "indi-vidro" – ou seja, um indivíduo partido, embalado pelos cacos que rolam e fazem estranhos ruídos aos seus pés.
De todas as obras contemporâneas que estão espalhadas pelo mágico território de Inhotim, galeria de arte a céu aberto localizada em Bumadinho, cerca de uma hora de Belo Horizonte na estrada que vai para São Paulo, é em "Através" que o visitante se depara com o simbólico de nossos cotidianos, cheios de desafios, perigos, surpresas, derrotas e vitórias. Antes, um banho na "Sala Vermelha", também de Cildo Meirelles, onde os objetos perdem a identidade em função da berrante cor vermelha, que está em absolutamente tudo, tudo, tudo – até na água que escorre de uma torneira.
Foi por essas duas instalações que chegamos à Contemporaneidade da Arte Visual em Minas Gerais. Fim do barroco e do modernismo da Pampulha. Minas agora empresta sua natureza – montanhas, jardins, palmeiras, cheiro de gado, paisagismo entre pedras – ao que há de mais instigante no mundo das artes pós-moderna – o parque de Inhotim.
Os obstáculos de "Através", do ponto de vista metafórico, são os vidros que quebramos durante esta deliciosa sensação de ser/estar que chamamos vida. Ora fáceis, como um aquário; ora difíceis como passar em arame farpado. No ambiente, assim como na vida, é preciso ter leveza e sabedoria para pisar nos cacos de vidros de nós mesmos.
Como me disse a companheira/psicóloga Luca Andrade, cm quem fiz a visita: "aqui o indivíduo se transforma em indi-vidro, vivo, dividido, indiviso, inteiro em suas partes. Essa instalação do Cildo nos faz refletir muito."
"É preciso está atento e forte/ não temos tempo de temer a morte", já cantava Caetano Veloso nos tempos da Tropicália. Diante de seus próprios cacos pisados com seus sapatos, olhamos para o brilho do vidro e fica tudo translúcido. Luca conclui: "Preciso ter coragem, agilidade, cuidado, carinho, firmeza, aconchego, atenção e astucia para lidar com os cacos de nossos cotidianos, pois cada caco é um universo que nos dá a magia do momento presente."

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