MADDONA, NÃO!
Renato Riela
Estamos em novembro e o Governo do DF não definiu o que vai fazer de significativo para comemorar o aniversário de Brasília, a 21 de abril. São 50 anos, pessoal!!!
Houve a decisão de gastar alguns milhões de reais para comprar o tema da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis. Em compensação, o Carnaval de Brasília ainda não tem solução. Provavelmente não será mais realizado no Ceilabódromo, local rejeitado pelas escolas de samba locais.
Mas o que haverá de marcante em Brasília no dia 21 de abril de 2010?
Os jornais perderam muito espaço anunciando que seria contratado um show de Paul McCartney.
Quem? - Perguntarão aqueles que têm menos de 30 anos. Felizmente o velho Beatle pediu um troco de R$ 7 milhões para vir a Brasília...
Rolou um nome e outro, até empacarmos na Madonna, agora assessorada por Jesus, cachê estratosférico, que certamente encherá a Esplanada dos Ministérios e atrairá milhares de pessoas de outras cidades, para assistir de graça o show recém-apresentado em espetáculos pagos no Brasil.
Vale, no entanto, questionamentos. Na verdade, a comemoração dos 50 anos requer reflexão, destaque dos valores locais, reforço da imagem boa da cidade e muitos outros fatores que possam valorizar Brasília.
AUTO-ESTIMA BRASILIENSE
O desafio não é encher a Esplanada. O grande mérito é fazer uma programação que aumente a auto-estima do brasiliense, resgatando qualidades que nem a gente mesmo percebe. Se não gerar emoção, é melhor não fazer nada!
Nesses 50 anos, há duas personalidades que marcam Brasília de forma positiva. Uma delas é Juscelino Kubitschek, considerado o maior presidente que o Brasil já teve em todas as épocas, de nível superior em todos os aspectos. Por sorte nossa, sua maior identificação é justamente com a Capital Federal, civilização que criou para gerar novo reordenamento no Brasil.
Sendo assim, as cabeças pensantes (digo bem: as pensantes!) da cidade devem levar em conta este maior desafio. Como comemorar os 50 anos enaltecendo JK de forma interessante? Não podemos deixar que Brasília se transforme em Macondo, a cidade de Cem Anos de Solidão que esqueceu seu criador, o genial José Arcadio Buendia, e que até desprezou seus descendentes.
GRANDE NOME DE BRASÍLIA
Além de JK, o grande nome vinculado a Brasília não é Niemeyer, nem Piquet, nem Joaquim Cruz, nem Kaká.
Trata-se de Renato Russo, fenômeno musical, que canta a cidade nas suas músicas de forma marcante e que está "vivo" na memória dos brasilienses e dos brasileiros de todas as gerações ("É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade não há").
O líder da Legião Urbana (falecido há 14 anos) nasceu 25 dias antes de Brasília, a 27 de março de 1960. Isto é: estaremos comemorando, também, o seu Cinqüentenário.
Para estes todos que estão discutindo as comemorações pelos 50 anos de Brasília, abro a tempo algumas reflexões.
Renato Russo e a banda Legião Urbana são ícones de um movimento musical tão forte no Brasil quanto a Bossa Nova, o Tropicalismo e outros movimentos artísticos, que foi o Rock Brasiliense da década de 80, ainda hoje dominante na cena cultural brasileira.
Resta ver que, mais de uma década após a extinção da banda Legião Urbana, seus discos são destaque nas rádios de todas as regiões, de todas as faixas sociais, culturais e econômicas, como se Renato Russo estivesse vivo.
Do Amapá ao Rio Grande do Sul, dá Legião, todo dia – e só as cabeças pensantes de Brasília não vêem isso, preferindo aplicar milhões e milhões em Madonna, Beija-Flor, etc.
DESTAQUES DO DF
Junto com a Legião Urbana, floresceu em Brasília um rock de incrível densidade, a exemplo do Capital Inicial, conjunto que tem Dinho Ouro Preto até hoje como sucesso nacional (e ele estudou em Brasília, na Escola Americana!).
A banda Paralamas do Sucesso também começou em Brasília, assim como Os Raimundos, Cássia Ellen, e muitos outros.
Cantores mais velhos, como Ney Matogrosso e Fagner, também moraram em Brasília e praticamente começaram a se destacar a partir da cidade. Quem precisa de Madonna, hein?
As cabeças talvez pensantes de Brasília acertariam se produzissem um grande show na Esplanada como tributo a Renato Russo, trazendo todos esses que estiverem vivos para cantar Eduardo e Mônica, Faroeste Caboclo e muitos outros sucessos.
Um dos maiores nomes femininos da atualidade é Vanessa da Mata (já ouviram falar, cabeças pagantes?), que tem regravações emocionantes de Renato, e também em homenagem a Cássia Eller (que sempre cantou Renato Russo).
Não impede que se traga Marina Lima, Lulu Santos e outros ícones do rock atual brasileiro para esse tributo a Renato.
Agora, mais uma sugestão: entremeando com as apresentações musicais, o público poderia ter contato com ídolos do teatro, como Fernanda Montenegro, Toni Ramos, José Wilker, e alguns outros, todos lendo textos curtos e marcantes sobre JK – com projeção de imagens históricas do presidente de alma brasiliense. Nesse destaque teatral não podemos esquecer as brasilienses Patrícia Pillar e Maria Paula, viu!
Tudo isso que mostrei acima custará menos do que os milhões de Madonna e nos deixará com uma sensação de dever cumprido em relação a Brasília.
E – garanto – atrairá público tão expressivo como o velho Beatle ou a "velha" escandalosa.
2 comentários:
olá, Turiba!!!
faço votos que o show seja bem brasileiro e com gosto de manga rosa, e acho que o azul e branco da Portela cairia bem, e que tal a presença de alguns internacionais, como a Aretha Franklin, Omara Portuondo, Sílvio Rodriguez, U2 e outros... são vozes belíssimas, são os nossos velhos recados...
saudações!!!
Sim....perfeito...para os 50 anos nomes de destaque que emocionem e transcendam . Sou a favor do "Grande Tributo a Renato Russo" proposto. Renato foi poeta, músico, instrumentista, formador de opinião, pensador dos mais consequentes em níveis múltiplos, como o social , o amoroso e o existencial.
E...nosso Grupo
VivoVerso já está preparando o espetáculo temático em que Brasília será vista pela ótica dos grandes poetas que sobre este espaço escreveram....
Continuemos em linha...
beijos!
Sylvia
Postar um comentário