Luis Turiba, relembra o cinematográfico malandro do cinema brasiliense
Texto para o último dia do Festival de Cinema de Brasília
Amigos, Amigas! Galera que ama e participa o cinema brasileiro!
Falta alguém hoje nesta festa. Alguém que não foi convidado, nem sequer lembrado naquele menor espaço do pé de página do catálogo e do convite do encerramento deste festival.
Alguém muito especial que com toda certeza está presente entre nós aprontando alguma, o que é uma característica de sua personalidade.
Refiro-me a Zé Pereira, o grande responsável pela realização dessem filmes que vocês assistirão agora. Sem ele, provavelmente nada disso existiria.
Aliás, poucos aqui tiveram o prazer de conhecê-lo; mas os que conviveram com ele jamais poderão esquecê-lo.
Difícil é defini-lo. Não era o que podemos chamar de um produtor.
Nem tampouco um realizador.
Muito menos um cineasta, roteirista, diretor, ator, capitador.
Ao mesmo tempo, era um pouco disso tudo.
Vamos dizer: Zé Pereira era um "zecutivo" da armação e do bem viver.
Um patrimônio imaterial da cultura brasiliense.
Sim, Zé Pereira foi um personagem vivo que se não tivesse existido precisaria ser inventado.
Mas juro: ele existiu. Nordestino, natural da Paraíba, semi-analfabeto, galanteador, articulado e dono de uma lábia que transcendia a qualquer raciocínio linear.
Foi ele quem conseguiu convencer o governador Zé Aparecido a bancar com recursos oficiais os cinco filmes dessa série.
Quando os recursos estavam disponíveis, Zé Pereira simplesmente fez uma farra que ficou na história do cinema de Brasília: alugou um andar inteiro do Hotel Nacional e por mais de 15 dias comeu e bebeu do bom e do melhor, convidando amigos, putas e mendigos da cidade para beber champanhe e fumar charutos cubanos acessos em notas de cem dólares.
Um verdadeiro banquete macunaímico!
Zé Pereira era assim. Na véspera de um festival, acho que em 84, chegou no Hotel Nacional um dia antes e se apresentou:
- Boa noite, Nelson Pereira dos Santos.
- Pois não, Seu Nelson, sua suíte é a meia dois meia,
Zé Pereira só saiu da suíte quando chegou ao hotel o verdadeiro Nelson Pereira, deixando um rombo de milionário para o festival pagar.
Zé Pereira não se apertava. Foi o malandro mais cinematográfico que Brasília já produziu, um discípulo direto de Macunaíma, um seguidor de Kid Morengueira. Amava o cinema, as boas coisas da vida, como bons vinhos e sofisticados pratos; as mulheres, os amigos e as grandes produções e armações.
Foi amigo de governadores, ministros, políticos. Em Brasília, recebeu o maestro Tom Jobim, e teve conversas temáticas interessantíssimas com o economista marxista Celso Furtado, por exemplo.
Foi graças a essas suas estripulias que o cinema brasiliense ganhou um Pólo de Cinema e filmes como esses que vocês irão assistir hoje.
Por tudo isso; Viva Zé Pereira, Viva Pereira, Viva Pereira neste Festival.
Um comentário:
Bem lembrando, Turiba, viva o nosso eterno e querido Zé Pereira, o Pereirinha. Eu tenho uma passagem no meu currículo da qual muito me orgulho: fui eu quem assinou a primeira, e quiçá única, carteira de trabalho do Pereira, como produtor cultural do Clube da Imprensa. Ele merecia mais.
abraços
Moa
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