segunda-feira, 6 de julho de 2009

MORTE & VIDA MICHAEL JACKSON

Luis Turiba

 

Que funeral qual nada!? O que veremos amanhã direto de Los Angeles, será a imortalização do Rei do Pop. Michael Jackson encantou-se, virou incenso sonoro, aspirina holywoodiana, produto midiático hipnótico. Tudo nele foi, é e será sempre espetaculoso. Sua vida foi um palco, sua morte um espetáculo. Imagine um sujeito que não teve ao longo de meio século de existência, a honra de conhecer, nem em vida nem na morte, pelo menos um tiquinho só, o que é ser um relés humano normal. 

Filho de um invocado lutador de boxer que tratou os filhos como cães vira-lata e sacos de pancada, para fugir à violência familiar ele, Michael, dedicou sua infância ao canto e ao encanto. Rapidinho se deslocou dos irmãos malinhas e construiu a trilha sonora de toda uma geração, o jeito de ser, cantar e dançar de uma planetária legião gay que assumiu sem nenhuma culpa seus trejeitos andróginos transcendentais. 

Hoje dá pra entender porque Michael nunca assumiu sua homossexualidade. Com um pai troglodita como Mister Boxer, resolveu ele comprar esposas e filhos. Assim como Fernando Pessoa, Michael foi assexuado na vida. Para gozar, comprava orgasmos com espermas brancos, loiro, de olhos azuis.  Até nas dívidas ele foi hiper-super-plus.  Dinheiro pra ele nunca foi problema, nem solução: era uma ilusão, um vendaval.

Também pudera; nasceu preto, morreu branco; cresceu astro, virou plástico. Compôs, cantou e dançou como nenhum outro astro da era pop. Nem Elvis Presley com seu rebolado rock and roll, nem os Beatles, com sua genialidade melódica, chegaram tão longe como ele. E para chegar aonde chegou,  ser o vitorioso que foi, se alimentava farmaceuticamente, vivia numa Disneylândia particular chamada Neverlander, dançava como um robô japonês, cantava como um Pavarotti de voz fina e afiada, colecionou crianças e fez desaparecer o nariz de negão por toquinho afilado a la Diana Ross.

Tive a sorte de acompanhar a gravação que ele fez no Pelourinho, com a banda do Oludum. Na época, a Bahia surtou. O antigo bairro onde escravos eram comprados foi cercado pelas sete portas. Fizeram o despacho pra Exu, rufaram todos os tambores dos Orixás e quando ele apareceu, de camiseta rasgada, foi um delírio só e até os PMs escalaram para a segurança começaram a dançar pra trás, levantando um pezinho enquanto o outro se arrastava pelo chão.

De lá, Michael veio ao Rio, subiu o Dona Marta. O diretor Spike Lee negociou com Marcinho Vapor o clip no morro e ele cantou e dançou na laje que hoje está lá, eternizada pelo Rei do Pop.   

  


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