terça-feira, 5 de outubro de 2010

GRAFITICES GRAFITAGENS

GRAFITICES GRAFITAGENS

Poema:  Luis Turiba
Design Gráfico: Hugo Rocha

Grafitamos na lua cheia a expressão estou vazia
Tinta vermelha escorrida cintilou e foi uma grita
Cá na Terra refletiu-se a ferida suicida
Sentiram-se pingos na noite... era sangue, chuva de vida
Aos raios do Sol clamamos: prolongamento do dia
No canto da mãe sereia pautamos uma nota fria
Mas não sossegamos nisso. Fomos aos Alpes suiços e fixamos um aviso: dos signos, a linguagem é a mais subversiva.
E saímos a bordar paredes após paredes, brincando com a mão do mundo como quem tem fome ou sede...
Grafamos no Monte Everest: abaixo todas as pestes
Bem no Pico do Himalaia: se isso não é ímpar, é Maia
Nas cordilheiras dos Andes: pinocheteiros se mandem
No doce do Pão de Açúcar: eta vidinha insossa!
Na Estátua da Liberdade: teje presa, teja solta
Nos pastos da UDR: queremos leite é de moça
Tudo em letras garrafais, invisíveis, fortes, foscas
.............................
Ssssssssssssssssss!
Nada ssscapa do ssspaço de uma sspreytada de spray.
Spreytamos a monarquia, a coroa e o próprio Rey, que nu, como bem nascido, pichamo-lhe o corpo de uma cor e de outra o pobre umbigo.
No Alaska um fio-dental
Na Sibéria um carnaval
No Nepal um samba-enredo com sotaque oriental
Ideogramas chineses voaram dos dazibaos
E três hai-cais japones pousaram no Senegal
Em Wall Street alertamos pra praga dos pre-datados
No deserto do Saara camelamos enlatados
Em Manhattan desenhamos limunises e rataza NAS
E no Rio de Janeiro: aid's ti Copacabana
Vestimos umas fardas velhas de antigos oficiaisSS e grafitamos nas estrelas: Tortura na Terra, jamais

Lançamos Jesus pra Cristo e Picasso pra Platão
Ressuscitamos Virgílio, Nero, Pelé, Lampião
Nas fábricas nossos grafitis são sempre secos e breves
Fome! Falta! Fila! Falha! Greve! Greve! Greve! Greve!
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Com a letra A abrem-se alas.
E com a B vou a Belém
Com a C caço e calo e com a D dou a algúem.
No Big-Ben avisamos aos britânicos sãos e chiques: falta charme à Rainha e o príncipe tem bronquite, enquanto a Lady Di em vida dava palpites, vive toda a realeza o boom da falta de pique
E com todas tintas tintamos, da negra neve ao alvo piche
Na Escócia escoçamos uma garrafa de alambique, atravessando o Mancha manchados de mandraquices
No Torre Eifel penduramos tigres de papel crepom
Em Beirute nós berramos: carro-bomba não é bombom!
E nesse picha-picha-picha que não tem lixa que limpe
Paredes são galerias, taças - que tal um brinde??!
Pois....
O spray na mão criadora de um pichante apaixonado
Transmuta armas em flores e aroc-íris em fados
É que esses riscos supersônicos, mensagens do além do além
Têm muito mais que o anônimo daquilo que todos vêem
A bomba Agá, por exemplo, de mortífero cogumelo
Em uma jatada de ciscos, sem estrondos, horror ou gritos
No riso de um simples elo, passa a ser templo ou sorvete,
Pirulito ou caramelo
Chega a cheirar impossível:
Une judeus-palestinos
Separa a foice e o martelo
 
GRAFITEIRO GRAFITAI
GRAFITIS GRAMATICAIS
GRAFITEIRO SÓ GRAFITA
GRAFITI QUE A TINTA DITA
 
GRAFITEIRO GRAFITAI
GRIFOS GRITOS E SINAIS 

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