quarta-feira, 13 de outubro de 2010

UMA VISITA AO FUNDO DO LAGO PARANOÁ



O fotógrafo Beto Barata, do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, lança logo mais à noite (13/10) no anexo do Museu da República o livro "BRASÍLIA SUBMERSA", com 51 fotografias sobre a visa ambiental, humana e arquitetônica à beira e no fundo do Lago Paranoá.
 
É o primeiro documento que resgata visualmente a memória submersa do lago que já abrigou a Vila Amaury, que chegou a ter uma população de 60 mil pessoas.
 
Tive a honra que fazer a apresentação poética do "BRASÍLIA SUBMERSA". Eis o texto:
 

Não esqueça o escafandro

Luis Turiba

O barato do Barata é fotografar por entre as brechinhas das águas. Olhar translúcido da lente do fotógrafo na fronteira entre o mergulhar e o borbulhar.

Vista das águas plácidas do Paranoá, Brasília não tem seca, nem poder, nem gravata, nem carro com chapa oficial. É uma cidade nua e molhada pelas marolas no vento.

Lago paradisíaco, lisérgico e afrodisíaco. A Lindonéia tropicalista se esbalda com seus óculos roxo de limpar fusca suburbano. A kombi submarina, a boneca vodu.

No mapa – ou lá de cima das estratosferas cósmicas visto de um satélite espião em órbita – o Paranoá lembra uma aranha de cinco pernas. Ainda anda a onda no ar na palavra Pa ra no á?

Há um mistério a se pescar no fundo do fundo do mergulho escuro das profundezas do olho puro. Translucidez no retorno à tona. Mergulhar não é esconder. É ver além através de novas lentes humanas.

Se o Abaeté é uma lagoa escura, o Paranoá é um lago que se equilibra no ar. Um lago beija-flor que pode derramar e encharcar os ternos escuros dos que habitam o poder.

Tem um fundo lunático com o céu aquático pois nas suas profundezes moram mistérios: um pé de pequi, um jeep da FNM, uma lembrança do Norte, um lance de sorte, um sapato furado, um lance de dados.

O barato do Barata custou caro. Quem para no ar para no tempo: nas ruas entranhas de um tempo passado que respira presente de olho no futuro. Lontra, garça, jacaré. Há um pé de peixe que dá tilápias, tambaris, bagres, tucunarés, acarás, lambaris baguris, traíras e trairão, o bandido que pesca no lago com seu trintontão

Ou como previu, em 1894, o botânico A. Glaziou, que fez parte da Missão Cruls. "Além da utilidade da navegação e da abundância de peixes, não é de somenos importância o cunho de aformoseamento que essas belas águas correnes haviam de dar à nova capital despariam certamente a admiração de todos as nações."


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