“Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No Planalto Central do País”
Caetano Veloso
No princípio era o barro, o cerrado, a esperança. Até que o velho Fenemê cheirando a graxa com sua pintura cor de terra, estacionou ao deus-dará do Planalto Central e ali descarregou a primeira legião de trabalhadores anônimos. Sim, era o homem. “Vinham de longe através de muitas solidões”, escreveu Vinicius de Moraes. As forças vivas da Nação foram convocadas a erguer “num tempo, o novo tempo”. Estava dada a largada para uma das mais espetaculares epopéias de um povo no século XX. Uma verdadeira maratona da civilização moderna. Tanto que quase meio século depois eles continuam chegando à cidade moderna. “Será que é imaginação? Será que vamos conseguir vencer?” Os versos de Renato Russo refletem a perplexidade da chegada. Josés, Raimundos, Severinos e Franciscos perdiam a identidade. Coletivamente, eram candangos – palavra originária do quimbundo-angolano kandungu, pessoa ruim, vilão. Nos canteiros de obras passavam a ser chamados de Bahia, Piauí, Mineiro, Pará, Gaúcho ou Goiano. Toda conquista envolve riscos. Quantos ficaram pelos caminhos, perderam-se pela poeira das construções? A notoriedade cosmopolita de Brasília na Idade Mídia da Razão foi construída por hordas de brasis. O vidro fume dos prédios inteligentes, o transitar veloz dos Mitsubishis, o telefone celular e o lep-top que pluga o político e o executivo com qualquer praça do planeta. Nada disso existiria sem os milhões de brasis. Brasília tem hoje o sotaque dos brasis, o jeito dos brasis, a cara dos brasis. Brasília, a melhor e a mais viva síntese de um povo. Brasília, capital Brasis.
Publicado no livro Bala, em 2005
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