domingo, 5 de abril de 2009

O cara, o pop-star hip-hop

Luis Turiba

Ainda bem que Lula não tem os dez dedos. Já pensaram: se com nove está barbarizando, fazendo cestas e mais cestas de três pontos, tirando coelho da cartola dos outros e ainda por cima quase senta no colo da rainha branca de olhos azuis para sair bem na foto. Com os dez então, nossa! O cara ficaria muito metido, impossível de aturar, chique nas últimas.

Ao escrever isso, não quero sacanear ninguém. Ao contrário: estou é louvando o nosso presidente, massageando seu ego, pois seu comportamento nesses palcos internacionais ultrapassou a fronteira do político e caiu no campo pop. Um fenômeno da pororoca eletrônica dos tempos midiáticos, no dizer do filósofo Jorge Mauter.

São atitudes, falas e trejeitos brasileiramente culturais, de uma poética hip-hop transcendental que só o jeito dos trópicos permite ser. Somente um líder brasileiro, operário e nordestino, poderia ser o que Lula é para os demais dirigentes do planeta: o cara.

E o que significa ser “o cara” do planeta Terra a esta altura do campeonato? Bem, primeiro dá gosto vê-lo surfando na crista da onda. Afinal, Lula enxerga a “responsa” que o Brasil tem na construção de uma nova ordem mundial para o planeta, uma relação mais humana, mais natural, mais mestiça. Lula, assim como o Brasil, é uma espécie de zebra desta confraria. Mas é essa zebra que banca os treze pontos do bolão do sistema financeiro internacional. Se não, como ele costuma dizer: o mundo “sifu”, meu.

Quando afirma que Obama se parece com um neguinho “bahiano”, Lula nos remete a personagens de Jorge Amado, a uma canção praieira de Caymmi ou a um quadro de Carybé. Obama capoeirista, sambista, mulato de Copacabana. Nada mais mestiço, nada mais brasileiramente mundano do que um Obama baiano. Ou seja: Lula trouxe “o mais poderoso” para o Brasil. Jogada de mestre: somente um pop star de barba branca e semblante de estadista é capaz de criar uma imagem como esta.

Por isso, Lula é “o cara” do planeta. Por que se fez por si próprio espelho do povo brasileiro. Ele não é uma invenção cerebral de Zé Dirceu, nem do marketing de Duda Mendonça ou João Santana. Para se sentar ao lado da Rainha (de olhos azuis) Elizabeth, ele deixou a vida lhe levar bem aos moldes de Zeca Pagodinho e Ronaldo Fenômeno. E os ventos sopraram a seu favor, a ponto de transformá-lo num “oreia” de Nicolas Sarkozy.

Assim como Kid Morengueira foi o nosso Rei do Gatilho, Lula é o rei das metáforas. Ele quebra o discurso diplomático com tiradas e breques que já entraram para a história. Tudo coisa da própria cabeça. Não há no Palácio do Planalto um assessor para gracinhas.

Há muito que precisávamos de um presidente assim. JK, em meados do século passado, foi chamado de “Presidente Bossa Nova”. Foi o sujeito que empurrou o Brasil pra frente, quebrou paradigmas humanos e nos livrou do complexo de vira-lata. Além do cara, foi “a cara” do Brasil pré-moderno da construção de Brasília. E lá se vão 50 meio século de história.

Agora que os novos tempos começaram (será?), Lula assume o pós-tudo e é apontado para a história (e não para a eleição de Dilma) como “ó do borogodó”, o top de linha, o cara que dá a benção a Bono Vox e mexe com o tango feminino de Cristina Kirchner. O cara sabe das coisas. Sabe até cantar Cazuza olhando da janela do seu palácio para o gabinete de Sarney no Senado: “A sua piscina está cheia de ratos, suas idéias não correspondem aos fatos, o tempo não pára, eu sou o cara.”

Um comentário:

Amneres disse...

Querido Turiba,

Adorei 0 blog, especialmente, esse artigo sobre O cara, Lula, nosso presidente brasileiríssimo e agora pop-star, já disso Obama. Aliás, outro Cara especialíssimo. Parece que, finalmente, os norte-americanos acordaram, ou será só um sonho passageiro? O que todos esperamos é que o mundo acorde e veja
que insistir com o atual modelo econômico - que destrói o planeta e mantém 2/3 da humanidade em condições de penúria -
é o caminho mais curto em direção ao abismo.
Achei muito legal saber também da exposição do modernismo russo, no CCBB. Vamos lá sem falta, não é galera de Brasília. E viva a arte!
Beijo e parabéns pela iniciativa.
Amneres - www.poesiaemtemporeal.com