A CAPITAL TEM DE DAR A VOLTA POR CIMA E CULTUAR O PRÓPRIO UMBIGO
Por Luis Turiba
Brasília passou pelo seu primeiro cinqüentenário envergonhada, cabisbaixa, olhando de soslaio a realidade e chutando tampinha de cerveja pelos cantos para não ter de encarar a luz do sol de frente. Parecia até uma velha centenária com apenas meio século de vida e todo um futuro nebuloso pela frente. Ah, esse povinho que governou a capital nos último 10 anos – tudo farinha do mesmo saco, os que filmaram e os que se deixaram filmar -, maltratou demais os traços de Lúcio Costa, as curvas de Niemeyer, as belezas de Athos Bulcão e a auto-estima do nosso povo mestiço, trabalhador e generoso que veio (e continua vindo) de todos os rincões brasileiros para construir uma nova cidade, um novo tempo, uma nova nação.
Brasília tem um destino grandioso e ninguém pode apagá-lo. O mau tempo passou como tudo passa. Agora, aos 51 da sua existência, um novo cenário se descortina e a capital brasileira precisa perder de vez esse complexo de vira-lapa sardento e lambe-saco que a tem perseguido ao longo de sua curta história.
Sacode a poeira Brasília! Deixe de ser província e se transforme de uma vez por todas em uma metrópole grandiosa, capaz de ser guia e luz desse País formidável que se prepara para sediar uma Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016.
Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. Brasília tem uma história de cultura dentro da cultura brasileira. Sua própria construção é um ato de afirmação e capacidade da engenharia, da arquitetura e do empreendedorismo nacional.
Brasília tem uma história cultural que precisa ser contada e recontada. É o momento que construirmos esse mapa, desde a festança de inauguração até o último carnaval no Ceilambódromo, quando a ARUC conquistou seu 30º título, mostrando que o samba bom se aprende é na escola.
De que espaço físico o consagrado poeta Ferreira Gullar dirigiu a Fundação Cultura na sua primeira gestão? Ganhe um livro de Nicolas Behr quem apostar no Espaço Cultural da 508 Sul, que antigamente era chamado de Galpão e Galpaozinho. E que geração foi essa que ocupou os gramados da 311 Sul para, por intermédio da Galeria Cabeças, iniciar uma verdadeiro revolução cultural candanga, onde surgiram bandas e nomes como Aborto Elétrico, Renato Matos, Wagner Hermuche. Cássia Eller surgiu bem depois, no restaurante Bom Demais, onde ouvíamos Faquini imitar com perfeição Janes Joplin e saboreávamos as iguarias panquecais de Dona Cristina Roberto. Mas a resistência cultural do SESC da 913 Sul, com Maria Duarte à frente não pode ficar fora dessa história.
Sim, gente, essa é a história que precisa ser contada e louvada neste 21 de Abril de 2011, quando celebraremos 51 anos de vida de Brasília. Os tempos são outros (ou não são?) e quem não tem memória não pode pensar em construir um futuro digno e clarividente, repleto de produções culturais de todos os estilos, sotaques e ritmos, como bem convêm a uma cidade plural e multicultural como Brasília nasceu para ser.
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