Éramos pouco mais de 10 pessoas e tivemos o prazer de ouvir, saborear e aplaudir uma música instrumental refinada, inspiradora e ao mesmo tempo surpreendente. Um programa totalmente "in" com pinta de "out" nesse Rio de Janeiro de outono, quando uma leve brisa começa a soprar pela baía de Guanabara.
"Nanico in Concert" aconteceu na última sexta-feira (8/4) no centenário casarão da Rua Pedro Américo 448 (Estúdio Pé da Ladeira), no Catete, onde o músico-poeta Carlos Henrique de Brito, conhecido como Nanico, mora, vive e atua há mais de 35 anos.
Tudo foi gravado, fotografado e documentado por câmaras da produtora Hífen Cinema, do francês Bastien Viltart. Um micro-estúdio com seis microfones foi montado por André Saisse, especialmente para captar todos os detalhes do concerto. Portanto, muito em breve, teremos no youtube uma das canções do DVD que deverá ter seis músicas. Aguardemos com dentes de aguardentes este presente.
NOITE CLÁSSICA NO CATETE
Num ambiente montado especialmente para a apresentação, com luzes avermelhadas no teto do velho salão, flores brancas e vermelhas do quintal espalhadas ao redor, velas acessas e uma imagem de São Jorge dando proteção aos presentes, Nanico dedilhou no violão canções que vem construindo há anos, numa espécie de suíte cameral secreta. Eles foram mostradas em conjunto pela primeira vez nessa noite. Valeu.
Ele teve que repetir várias vezes para a coisa sair certa. Isso descontraiu o clima e permitiu que a pequena platéia vibrasse quando tudo saía no tom exato. Ele estava acompanhado de dois jovens músicos excepcionais. Primeiro, a norte-americana Andrea Moreno lhe acompanhou no seu mágico cello em duas músicas: Bolero, que é de uma beleza extraordinária; e "A Bela e a Fera", única música cantada na noite. Essas duas canções já haviam sido tocadas por ambos numa noite de poesia no CEP 20000, no Humaitá.
Formou-se o trio quando o jovem carioca de origem russa Alexei Henriques, de 22 anos, estudante da UFRJ, exímio violinista, juntou-se a Nanico e Andrea nas músicas Tema "Peu", Cândida e Giga. Um brasileiro, uma americana e um russo e um ambiente musical totalmente planetário.
COMPOSITOR POPULAR
Poeta e compositor popular oriundo do grupo "Nuvem Cigana", da década de 70, tempo de desbundes e loucuras lisérgicas, Nanico sempre foi muito atuando nos textos poéticos e, especialmente, em rodas de sambas. Chegou a ser chamado de "Nico do Cavaco", tal a intimidade sua com esse instrumento.
Venceu também concursos de sambas enredos em importantes blocos cariocas. No carnaval desse ano, o samba do "Tá Pirando Pirado Pirou", bloco dos internos do Pinel, é de sua autoria. Mas um samba que a rapaziada não esquece e canta até hoje é o fez em parceria com o poeta Chacal para o "Suvaco do Cristo", em homenagem aos loucos do Engenho de Dentro e Dr. Nice da Silveira. O refrão diz assim:
"Saúde não se vende
Loucura não se prende
Quem está doente
É o sistema social"
Por isso, esse é um samba cada vez mais atual, levando-se em conta que estamos todos ainda chocados e de luto em função da chacina dos "brasileirinhos" de Realengo. O Sistema Social brasileiro está realmente doente.
Mas voltemos ao músico-poeta. Paralelamente ao seu trabalho de sambista, ele vem compondo uma série de canções instrumentais dentro de uma roupagem melódica riquíssima, demonstrando que soube sorver ensinamentos dos mestres de sua geração que ele nunca deixou de ouvir, como Tom Jobim, Beatles, Paulo Moura, de quem foi amigo e discípulo. Agora, a musa ganha materialidade.
Como disse antes, vamos aguardar com dentes de aguardentes por essa boa nova que vem por aí: "Nanico in Concert" , um presente desse carioca para os amantes da boa música universal.
Um comentário:
Maravilha e com a capacidade do nosso grande Turiba de narrar os que vimos em palavras perfeitas ! Abraço Forte , Saisse.
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