Carioca que se preza tem aquela marquinha na pele. Em cima e embaixo. Isso faz parte da cultura da praia. Quanto menor o biquíni, melhor a marquinha. E digamos que isso também é um rito quase que político do mulherio do Rio, pouco importando o volume da massa corpórea, a idade, a nacionalidade, o nível social ou econômico. De Ramos ao Leblon o negócio é cultivá-la, pois certamente será usada como objeto de sedução.
Noite da última sexta-feira, lua quase cheia de um dia ensolarado de outono. A Lapa fervia. Sem dúvida, é no velho bairro central que hoje pulsa o point mais quente do Rio de Janeiro. Galeras circulam em busca de diversão e arte. Casais de todos os tipos fazem estilo. Gringas e gringos, nórditos ou latinas, nipônicas e argentinas, misturam-se com lúpens, drogados, catadores de latinhas e vendedores de caipivodkas e hot-dogs viralatas. O borburinho levava a crer que o bicho ia pegar.
Foi nesse clima de muvuca boêmia com marcas de um verão que teima em não ir embora, que o PSTU carioca, um aglomerado político que prega o socialismo moreno e faz passeatas com uma mini bateria de samba, resolveu dar a luz a um ato de protesto inusitado e, talvez, até inédito.
E assim, ao contrário do que pregou FHC no seu artigo-testamento, os caras "cairam pra dentro do povão" e montaram um fuzuê na calçada da Rua Joaquim Silva, Alto da Lapa, bem próximo as escadarias de 10 mil azulejos que leva a Santa Teresa, onde circulam milhares de pessoas.
Instalaram ali um pequeno palco com potentes caixas de som, e a dona música reinou até altas horas da madruga: rock paulista, reggea, funk e, como não poderia deixar de ser, muito samba e pagode. Todos sabem que são caros os shows das grandes casas da Lapa - média de 30 reais por pessoa. Assim, o PSTU bancou "de grátis" uma bela noitada.
Enquanto militantes sacudiam bandeiras vermelhas, outros faziam inflamados discursos relâmpagos contra o governador Cabral que mandou processar 12 jovens e uma senhora, todos presos numa passeata anti-Obama no mês passado. São acusados de destruição do patrimônio público. Mas os "pstus" juram que foram punks infiltrados que jogaram coquetéis molotovs no consulado norte-americano. Nesse disse-me-disse aconteceu a maldade: a polícia carioca escalpelou os militantes que sairam da cana sem um fio de cabelo na cabeça.
A grande atração da manifestação foi o compositor Barbeirinho do Jacarezinho. Ele tem um estilo único e debochado de compor, brincando sempre com as necessidades dos trabalhadores. Catorze de seus sambas foram gravados por Zeca Pagodinho e pelo menos uns 10 por Bezerra da Silva. Lá pelas duas, com o público embalado por biritas coloridas e muita cerva, seus sambas soavam como verdadeiros hinos para aquele povão festivo.
Barbeirinho perguntava: "Você sabe o que é caviar?" A massa respondia: "nunca vi, não comi, eu só falar". O povo ajudou a cantar "Moro numa comunidade carente", "Dona Esponja", "Conflito" e outras. O melhor, porém, foi quando ele levou "Pão Careca", samba que caiu como luva para aquela reunião. A letra diz: "Dona Maria foi a padaria e achou cabelo no pão careca". Genial.
Se FHC estivesse ali por perto sentiria oomo é prazeroso fazer política também com marquinhas na muvucas. Coisas de povão.
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