"CHEGOU A HORA DESSA GENTE BRONZEADA MOSTRAR SEU VALOR"
Assis Valente
Na parte final do seu longo poema "Vozes D´África", Castro Alves faz uma espécie de "rap" viajando poeticamente entre a liberdade do homem negro na sua Mãe África e a escravidão dos Navios Negreiros a caminho do Brasil. Algo muito parecido com o que acontece hoje com nossas cadeias públicas.
O horror, porém, continua em ações e também nas vozes de homens públicos preconceituosos e racistas, como o deputado Bolsonaro.
Mas o que é bom saber é que o "rap" de Castro Alves vai se ampliando nas favelas, nos guetos, nas periferias, nas centros urbanos entre gays, negros, ciganos e outros brasileiros vítimas da intolerância em todos os níveis.
"Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ... "
A luta por uma plena cidadania das chamadas minorias, que na verdade são maiorias, está crescendo. Mobilizações pequenas começam a pipocar aqui e ali. Ontem mesmo, na Cinelândia, houve uma. Era pouco mais de 80, todos militantes, concentrados em torno de um pequeno carro de som, bastante fanho por sinal. Algo ainda precário, mas significativo.
Todos batiam na mesma tecla: cassação para Bolsonaro por ter agredido verbalmente não só a Preta Gil, como a grande maioria do povo brasileiro negromestiço.
Eram poucos, pouquíssimo. Aqui no Rio, em Sampa, em Brasília. Mas o movimento começou e esse "rap" vai crescer e aí Bolsonaro, isso ainda vai lhe custar caro.
Nova trincheira
Estreou ontem no caderno RAZÃO SOCIAL, de O Globo, a coluna "Razão e Cidadania", da jornalista Marcia de Almeida (razaoecidadania@oglobo.com.br) que há 15 anos trabalho em cima de temas das minorias-maiorias. É um espaço sagrado para a cidadania brasileira e merece todo o nosso apoio e consideração.
Os tempos realmente são outros e só o Bolsonaro não sacou. Em nota, os ciganos reclamam que são "invisíveis" para o Estado brasileiro e reivindicam documentação adequada. Há notas sobre soluções sustentáveis, sbre a audiodescrição para deficientes visuais e uma entrevista-relâmpago com Carlos Tufvesson da Coordenaria da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio sobre aquele assunto que Vossa Excelência considerada promiscuidade: ou seja: homessexualidade.
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