Por Luis Turiba
Ao descer do avião, respire fundo. Curta de entrada o frescor do ar carioca. Sinta a temperatura amena e a diferença flagrante entre o inicio de seca brasiliense, onde o nariz endurece, os olhos se irritam e os pulmões reclamam, e o outono do Rio de Janeiro, com dias lindos e a brisa da mata Atlântica nos invadindo de oxigênio. Ed Mota tem razão: é muito mais gostoso do que aquele verão brabo de 40 graus, a nos queimar os fundilhos.
Chove de vez em quando e até faz um friozinho agradável depois das seis. Mas ninguém deixa de ir à praia pela manhã, aos pontos turísticos à tarde e à velha e sonora Lapa à noite. Não tem como fugir desse triângulo dos com e sem bermudas. As escolas de samba ainda estão nos trabalhos internos, escolhendo seus enredos, portanto, fora do cardápio.
Corcovado, Pão de Açúcar e Museu de Arte de Niterói são lugares quase que obrigatório para qualquer turista que venha ao Rio. Não seria diferente para os brasilienses. Mas dá para buscar variações e novas aventuras, gastando até um pouco menos.
Depois de respirar e se acomodar em hotel ou casa de amigos, pense em que favela você vai quer subir. Sim, não dá para vir atualmente ao Rio sem visitar uma comunidade, fazer o teste da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), andar por vielas estreitas, ouvir funk na base, ser guiado por meninos do lugar e se possível almoçar lá, beber cerveja numa birosca e conhecer a cidade lá de cima, do morro, onde o galo canta um pouquinho mais alto, mas civilizadamente. O visual é indescritível e o passeio ficará para sempre em sua mente.
Uma boa dica é subir o Morro do Cantagalo. Vá de Metrô até a estação Ipanema – Praça General Osório, última da Zona Sul – e de lá se informe sobre o elevador que o levará até Mirante da Paz. Sem grilo, sem estresse, sem medo. Chegando lá em cima, vá em frente. Seja comunicativo com os moradores, que adoram receber visitantes, dar informações sobre o lugar e indicar algum tenda ou pensão que você posso almoçar ou lanchar.
Apesar da comunidade estar pacificada – a PM tem quartel lá em cima – cuidado ao fotografar por respeito ao local. O ideal é descer a pé pela comunidade Pavão e Pavãozinho, em Copacabana. Aí você faz tudo caminhando e vai chegar lá em baixo bem próximo à estação do Metrô. Ah, dessa você não vai esquecer.
Pode ir também ao Morro Santa Marta, em Botafogo, o primeiro a ser pacificado. Ao quem sabe a Igreja da Penha, no Complexo do Alemão, onde você sobre uns 400 degraus e lá de cima tem uma noção do tamanho da comunidade, onde o PAC instalou teleféricos que saem de Bonsucesso.
Outra boa alternativa comunitária: o Bar do David, no alto do Morro Chapéu Mangueira, no Leme. Foi o primeiro de uma comunidade com UPP a levar prêmios no concurso "Comida di Buteco". É fácil de chegar e na dúvida, fale no nome da senadora Benedita da Silva, que mora lá.
Bem, praia para quem tem fome de mar sempre dá pé. Diariamente o sol nasce envergonhado e outonal, mas vai ficando cariocamente assanhado depois das dez e as praias estão mais limpas e são maravilhosamente para longas caminhadas. Bronzear-se como no verão, nem pensar, mas o que fazer? Planeje saltar de asa delta da Pedra da Gávea. O vôo da liberdade custa mais ou menos 250 reais.
Opções para bons almoços não faltam. Sugiro um no Centrão, na inesquecível e centenária Confeitaria Colombo, na Rua Gonçalves Dias. É esplendoroso, um luxo só almoçar ao som de um piano clássico em dos lugares mais glamoroso do Rio de Janeiro. Se o glamour não é o seu forte, aconselho almoçar no japonês Gohan, no alto da Lapa, Rua Joaquim Silva, quase debaixo dos Arcos que levam à Santa Teresa. Arroz integral e peixe, bom e barato.
À noite, o velho e bom Lamas, em Botafogo, é sempre uma pedida. Ou Da Silva, no Rio Designer, no Leblon; ou Cervantes, no início da Barata Ribeiro. Planeje uma caminhada pela Ataulfo de Paiva, no Leblon, pois você pode até encontrar o Zeca Camargo tentando "exmagrecer", como diria o filósofo Dr. da Cuíca. Agora, por favor, não deixe de ir ao Belmonte e saborear um chopp black com uma empada aberta. Tem no Leblon, em Copa, Botafogo e também na Lapa. O chopp é inigualável, dissolve na boca deliciosamente.
O Belmonte da Lapa é no olho do buchicho, passagem obrigatória pelo velho bairro boêmio de Noel Rosa - refiro-me à esquina mágica de Rua Mem de Sá com Lavradio. Nesse cruzamento ficam o Bar da Boa, o Antônius Bar e o Garrafas. Quatro belas opções para início da noitada. Um pouco à frente a casa de show Carioca da Gemas, onde de segunda a segunda tem boas opções de samba e chorro, mas de preferência vá numa terça ouvir Paulão Sete Cordas e sua banda dá aulas sobre mestres do samba, ou quarta onde Makley Matos expõe seu vozeirão até altas madrugadas. Seguindo pela Lavradio, você pode curtir e dançar à vontade na Rio Scenarium, perto da Praça da República, onde fica a gafieira Estudantina. Não muito perto dali, mas também não muito longe, está o Trapiche da Gamboa, onde Diogo Nogueria grava seus programas para a TV Brasil. dUfa!
Fora desse circuito boêmio imperdível, há sempre excelentes exposições no CCBB, no Complexo da Caixa, e nos Correios. Atualmente, a RioFoto 2011, evento coordenado pelo professor Milton Guran, está ocupando as grandes galerias com belíssimas exposições fotográficas. As fotos invadiram as paredes, os salões e até os shoppings. Uma excelente mostragem pode ser vista no Espaço Hélio Oiticica, na Praça da República.
Outro lugar mágico que você deve colocar na sua agenda carioca, é o Theatro Municipal totalmente reformulado com suas coberturas de ouro brilhando como o sol do fim do dia. São programas normalmente caros, como um balé de vanguarda da Débora Colker ou um concerto de Keith Jarret, o músico que transa com o seu piano.
O Rio está repleto de boas opções teatrais, debates literários, exposições performáticas. De vez em quando explode um bueiro da Light. A Trope de Choque continua trocando tiros com os traficantes onde a chapa é quente e as UPP ainda não chegaram e a Praça da Bandeira enche toda vez que cai um toró.
Uma vez no Rio, vale a pena ler diariamente duas colunas muitíssimo bem informadas, ambas de O Globo: a do Ancelmo e o "Gente Boa", do Joaquim Ferreira dos Santos. Você vai sempre descolar uma dica legal. Foi por intermédio de uma delas que na semana passada fui assistir a um show do Monarco, um dos integrantes da Velha Guarda da Portela, na Academia Brasileira de Letras, cantando sambas de Nelson Cavaquinho.
Agora, vem aí em julho a Flip 2011, na linda cidade de Parati, a três horas do Rio. Este ano a festa homenageará o modernista paulista Oswald de Andrade e seus manifestos antropofágicos. A grande novidade é a apresentação do músico escocês David Byrne, ex-integrante da banda new wave Talking Heads, mas Zé Celso Martinez, do Oficina, promete performances pra lá de sexuais.
Nada mal pra você que perdeu o show do Paul MacCartney e a despedida do Petkovic do Flamengo, domingo passado no Engenhão. De qualquer maneira, ainda dá tempo de assistir o filme do momento "Quebrando o tabu", onde o ex-presidente FHC defende a discriminalização da maconha e o fim da guerra às drogas. É o quente por aqui.
Ah!, por último, não deixe de ler todos os domingos o artigo do Caetano Veloso na página 2 do Segundo Caderno. Sempre muito polêmico e marrento, como todo carioca-baiano que se preza.
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