segunda-feira, 20 de junho de 2011

PRESTA ATENÇÃÃÃOOO, CRISTOVAM

 
 Senador que se diz antenado não vê o que está na cara

Luis Turiba
 
Em artigo publicado em "O Globo" no último sábado (187/06) com o título "Corda Bamba", o senador por Brasília, Cristovam Buarque, diz no primeiro parágrafo que "em vários locais do mundo, a juventude está indo às praças". Certíssimo. Vossa Excelência, porém, erra feio no parágrafo seguinte quando afirma que "no Brasil, isso não está acontecendo" e que aqui "nossos jovens estão contentes."
Penso que o senador da Educação está precisando se reciclar, sair da zona de conforto que ocupa no Senado e circular mais pelo Brasil, e até mesmo por Brasília, onde mora e trabalha. Apesar da propagada estabilidade econômica, das perspectivas de crescimento interno e do aumento do mercado de trabalho; os jovens brasileiros estão extremamente insatisfeitos com os rumos e os vexames do universo político, conscientes dos caminhos que querem para si e para suas galeras; e várias "tribos" estão, inclusive, "pintadas" para as guerras próprias e do país que estão se avizinhando. As primeiras escaramuças estão desenhadas.

Pena que o senador não esteve no Rio de Janeiro no último fim de semana outonal. Perdeu um monte de mobilizações, passeatas e protestos em torno de uma pauta variada e inusitada. Aliás, se estivesse em Sampa, Cristovam poderia ter ido a "Marcha da Liberdade", que mobilizou três mil jovens na Avenida Paulista, pedindo a legalização da maconha, uma proposta que hoje pertence também ao ex-presidente FHC. Ou poderia ter ido a "Marcha das Vadias" em Brasília, onde o mulherio gritou a plenos pulmões pelo direito de fazer o que bem entende com o próprio corpo.
É senador, a galera está realmente na "corda bamba" como diz o seu artigo, mas não é verdade que está dormindo "no ponto" na estação da Alienação. O que mudou, e o professor ainda não percebeu, foram os conteúdos das mobilizações e a maneira performática como estão sendo levados às praças e ruas do Brasil. Nos ensina a dialética que aparência não é essência. Ou como diz minha amiga japonesa Mako: "o brasileiro sabe como nenhum outro povo ligar o foda-se". Se tiver samba, então, a onda fica pra surf. 
Semana passada, por exemplo, a Avenida Atlântica de Copacabana foi tomada por 25 mil pessoas na já histórica Passeata dos Bombeiros. Aliás, a orla da Princesinha do Mar se transformou numa espécie de "Protestódromo" oficial do Rio. Ali, todo mundo bota a boca no trombone e joga areia no ventilador. São movimento autônomos, acima dos partidos e do eixo político tradicional e não mais confiável.   
A "Marcha da Liberdade" foi outro grande barato, um mix-x-tudo de linguagens. Imagine, Cristovam, alguém exibia um cartaz com a mensagem: "O sertão está em toda parte. O sertão é dentro da gente." Linda e filosófica a frase de Guimarães Rosa numa passeata onde 1.500 jovens (de idade e de cabeça) sugeriam um cardápio de liberdades que ia da distribuição gratuita de renda ("Dinheiro é tão bom que deveria ser de todos"), até a opção sexual na igreja evangélica ("O Senhor é meu pastor... e Ele sabe que eu sou Gay").
 
Um grande faixa liderava a caminhada: "Movimento pela legalização da Maconha", enquanto a turma pulava e cantava uma nova versão do grito de guerra da torcida brasileira em Copas passadas: "Ah! Sou maconheiro, com muito orgulho, com muito amor." Lá no meio outro cartaz: "Maconheiros apóia os Bombeiros". Esse aí, com uma só tacada apoiou também o polêmico livro do MEC que derruba preconceitos contra as populares concordâncias verbais da última flor do Lácio. É um outro tipo de ética sendo praticada.
E assim a marcha seguiu caminhando e cantando, arrastando multidões. Eram gays, lésbicas, bombeiros, maconheiros, vadias, ecólogos, todos ao mesmo tempo agora afirmando sua condição de ser. Tinha até deputados, como Chico Alencar; e ex-ministro e secretário Carlos Minc. E não venha me dizer que liberdade não é assunto sério. Cartazes traduzem a seriedade desses novos revolucionários: "Belo Monte de Merda", " Quem te disse?", "Chega de hipocrisia! Legalizem o Aborto."
 
Tudo isso foi sábado, pois domingo teve mais. Desta vez com a união dos blocos de carnaval do Rio de Janeiro contra o texto do Código Florestal aprovado na Câmara dos Deputados. À frente da manifestação, dezenas de militantes do Greenpeace fantasiados de árvores da Floresta Amazônica. Lá trás, acompanhando o carro de som uma bateria formada por quase 100 ritmistas segurava o samba. Quando a massa cantou "Vai Passar", homenagem aos 68 anos de Chico Buarque de Hollanda, a passeata mais lembrava uma escola de samba na Marques de Sapucaí.
A cena é fantástica: a jovem cuiqueira Manuela toca para o gari sambista numa integração extraordinária. Alguém segura uma motosserra feita de lixo reciclado ao lado de cartazes que avisam: "Amazônia não é lugar de vaca", "A revolução não será televisionada". "O pior cego é aquele que não quer VERDE" e "A liberdade de alterar seu sistema nervoso é um direito inalienável".
Ou seja, senador, os tempos são realmente outros: o "Abaixo a Ditadura" e "Fora o imperialismo" dos anos 70 foram substituídos por dezenas de criativas palavras de ordem que traduzem esse tipo de mobilização que só o povo brasileiro é capaz de fazer. São passeatas políticas-carnavalescas não raivosas com mensagens variadas que lembram hai-kais. Aqui, jovens se fantasiam de índios e árvores, gays desfilam suas delicadezas, maconheiros apóiam bombeiros e o governo que se cuide, pois o povo já está perguntando com maldade sobre o que acontecerá em Brasília quando as três damas do Palácio do Planalto entrarem juntas em TPM.
 
Portanto, mobilização é o que não falta. Já derrubamos a ditadura, conquistamos a democracia e agora queremos as liberdades plenas do prazer, da felicidade, do pão e do mundo sustentável. Será que o senador entenderá a nova onda?

8 comentários:

Anônimo disse...

bravo, turiba. agora a coisa rola. na paulista. na atlântica. teve um tempo que só o futuro interessava. tínhamos que sofrer até ele chegar. depois só o presente, o aqui agora, interessava. o prazer pelo prazer. acho que agora essas duas vertentes se encontram: viver o presente com o olho no futuro. com alegria e disposição de ser mais feliz logo ali.
no fundo o que acho mesmo é que a galera cansou de não ser ouvida, se cansou desse nada atrofiante dessa sociedade q só te empurra p/ o consumo. novos valores como a vigorar. a terra foi semeada. vamos colher. "maconhero apóia bombeiros" é uma palavra de ordem extraordinária. abração, chacal

Anônimo disse...

Turiba, valeu.
Coloquei seu blog em meus favoritos.
Gostei muito do artigo que vc postou, captando completamente a nova buena onda destes tempos.
Um abraço,
Ana Liési

Anônimo disse...

turiba: ótimos os dois bordões: “maconheiros apóiam bombeiros” e “o senhor é meu pastor e ele sabe que sou gay”. criei um para as minorias sado-masoquistas: “não sou da opus gay, mas adoro um chicotinho”.
afe! santa madre!
abraço ademir
blog: http://zonabranca.blog.uol.com.brsite: http://zonabranca.sites.uol.com.br

Anônimo disse...

Valeu Turiba, fui a Marcha, encontrei com a Angelica, das Vadias aqui em Brasilia, 400 pessoas.
Tirei várias fotos e os cartazes tb refletiam o espírito bem humorado de denuncias .
É isso mesmo, o Cristovão morreu e acha que está vivo. Será que ele vive no Brasil mesmo?
Grande abraço
p

Anônimo disse...

Querido Luís Arthur,

Os velhos comunas, como o sêo Toríbio, devem estar se revirando dentro dos túmulos, envoltos na bandeira vermelha. Não. Nada contra a livre expressão do pensamento político hedonista em uma questão que fica ao livre arbítrio de cada um: quem quiser fumar baseado, que queime seu back
na santa paz do fumacê; quem quiser dar o rabo, que use seu corpo conforme seu desejo. Tem lei e tem STF prá todos os gostos em uma democracia.
O que intriga é porque não se faz a passeata a favor da Moratória Verde da Amazônia: não se corta mais nada. Ou a Marcha pela Descriminalização do Aborto que vitima as garotas pobres e algumas de nossas garotas de classe média também. Ou o Boicote Nacional contra o Imposto de Renda. Ou a Marcha contra o corte das árvores da W-3 em Brasilia para construir o tal VLT. Ou a Campanha para quintuplicar (porque hoje é quase zero) as verbas para implantar os Paps - postos de atendimento psico-social aos dependentes químicos de brasilia. Claro, porque tem nego ruim de cabeça que embarca e depois fica vomitando no vizinho.
Realmente, é uma novidade as marchas pela pamonha.
Me responda: qual a diferença entre fumar maconha e cheirar cocaína e/ou fumar crack? como a pilantragem carioca dos morros está sobrevivendo com essa coisa careta de os "homens" ocuparem as bocas, detonar o mercado e sabotar o carnaval? como a Mangueira querida vai sobreviver com esse bando de homens da lei andando prá lá e prá cá? e as criancinhas que agora deram de andar soltas pelas ruas sem bala perdida?
Sinceramente, não sei de onde voce tirou tanto lirismo prá chamar de poema-de-rua essas "palavras de desordem"? na época em que moramos na 23 do lago Sul (bons tempos) você mesmo quase apanhou de um pessoal que invadiu o quarto das crianças (os nossos filhos) prá cheirar meio quilo de farinha. Você assoprou, lembra e cunhou a famosa palavra de ordem: "Eu não cheiro! eu assopro!". E haxixe? pode ou não pode? alguém pode me dizer , como disse a tal Folha de São Paulo, aonde existem os tais cultos que usam maconha? o Santo Daime, tudo bem porque é uma seita mesmo e olhe que o pessoal que surta naquele alcaloide não tá escrito. Acho que deviamos convocar nosso querido e saudoso amigo Tim Lopes
para, numa roda espirita ou na gira, dar um depoimento do que ele acharia hoje, lá do além, de ter feito o jogo duplo: ir no morro comprar maconha, estar enturmado como sempre foi, e voce e eu sabemos disso, e depois queimar a "boca" com aquele video clandestino. Parece samba enredo
de carnaval, mas a vida aquí ao rés do chão é horrorshow.
Aqui em brasilia, a marcha pela defesa dos direitos femininos, contra a violencia machista, enfim contra todas as merdas que já fizemos contra
elas, chamou-se Marcha das Vadias... problemas sérios que estão sendo carnavalizados. Enfim, viva a avacalhação já que, agora, como velhos
ex-comunas, ganhamos o poder e tudo está resolvido em nosso querido Brazil.
E viva o Cristovam Buarque - que o pessoal tá babando na gravata, não tenho dúvida e defendo o direito de ser pamonha sim. Pamonha Unido Jamais Será Desunido!

zé roberto.

PS - nem tudo que é novo-novidade é signo de bom. gente por gente na rua, fila de onibus tá lotada nas periferias latinas.

Anônimo disse...

Querido Turiba: vibrei com o artigo e a resposta ao Cristovam Buarque, aconselhando-o a abandonar a zona de conforto do Senado; Adoraria polemizar mas quem esta na zona de conforto agora sou eu, exercitando minha vocacao de cigana revelada na infancia. Estou numa casa de artistas maravilhosos. Inclusive penso em fazer um intercambio e conto com vc

Jane

Anônimo disse...

é isso aí turiba... o teu bilhetex mimpressionou... e mins-pirou um impromptu
POIS É // Aposentou-se o Capeta... / o Bom Pastor bem sabe.. / algumas de suas ovelhas / novas ou velhas / sáo hoje todas / umas drogadas / e outras sáo gay / de salto carrapeta / estas dáo lá rosa / aquelas dáo lá preta //

zuca sardanga

Ilusória Subjetividade disse...

Turiba realmente genial, sempre vão ter pessoas que vão falar coisas, que aí sim, deveríamos considerar obscenas ou sem qualquer compromisso com o raciocínio lógico e com a verdade, mas já estamos acostumados com isso, e Cristóvão ACORDAAAAAAAAAAAAAA!!!! A Juventude vem em luta sim, tão vem como agora começa o primeiro congresso da ANEL, onde chega agora na UFRRJ cerca de 2000 jovens de todo o país, e o Cristóvão e outros estão nos confortos de seus escritórios, ou beneficio qualquer bancado por esses jovens que estão de todas às formas se mobilizando, por isso, ACORDA Cristóvão, que qualquer dia eles chegam aí...

Turiba, um forte abraço meu camarada!
Danilo Firmino.