sábado, 13 de junho de 2009

O MARTÍRIO DE GALENO


Artigo do editor Carlos Marcelo, publicado no Correio Braziliense de hoje (13.06)

carlosmarcelo.df@diariosassociados.com.br


Com orgulho, o artista plástico Galeno mostra a última fase do trabalho que desenvolve, a convite do IPHAN, no interior da Igreja Nossa Senhora de Fátima. Abre um sorriso ao perceber o embevecimento dos que acompanham sua trajetória diante do resultado do maior desafio que já enfrentou: levar a sua arte às paredes da capela desenhada por Niemeyer no coração da Asa Sul.
Mas o artista baixa o olhar quando reproduz a sucessão de ironias e hostilidades que tem escutado diariamente nas últimas semanas por se recusar a seguir um modelo figurativo para a representação da aparição de Nossa Senhora às crianças portuguesas Jacinta, Lúcia e Francisco em 13 de maio de 1917.
“Tem dias que a gente perde até a vontade de trabalhar....”, disse.
Opiniões divergentes existem e sempre existiram, ainda mais quando o tema envolve religiosidade e fé. Por isso, antes de mais nada, é preciso pautar a discussão sobre os novos painéis da Igrejinha, que envolveram até o Ministério Público Federal (acionado após recebimento de abaixo-assinado com 68 nomes que não aceitam o trabalho de Galeno), pelo respeito.
Estabelecido o patamar mínimo para qualquer debate, convém tentar alcançar a dimensão do fato e não reduzi-lo a uma questão de gosto pessoal.
Pelas características únicas do projeto original, a Igrejinha é uma edificação que transcende a próprio religão: trata-se de um monumento arquitetônico e urbanístico – ali se encontram, reunidos, os gênios de Niemeyer e Athos Bulcão, em espaço de convívio idealizado por Lúcio Costa,e por isso dezenas de turistas a visitam diariamente.
A Igrejinha não é propriedade particular dos seus fiéis freqüentadores, que lá encontram espaço para o exercício de sua fé. Ela é maior do que a população que a circunda e dele se apropria”, definiu o artista plástico Omar Franco, em comentário no blog do poeta e jornalista Luís Turiba, um dos primeiros a ampliar a discussão.
Desejar a Igrejinha ornada da mesma que outros oratórios espalhados pelo Brasil é, em última instância, recusar Brasília. Significa a rejeição ao projeto original da cidade em prol da reprodução de moldes seculares – um dos freqüentadores chegou a sugerir que Galeno projetasse uma imagem sacra na parede e se limitasse a copiá-la. Mais preocupante do que esta visão reducionista da capital e do processo criativo do artista, porém, é tomar conhecimento dos episódios de desrespeito à arte de um brasileiro nascido em 13 de maior e que, por isso, carrega Nossa Senhora não apenas na inspiração. Porque o nome completo do artista que tem sido hostilizado por alguns fiéis é Franscisco de Fátima Galeno. Um piauiense radicado no Planalto Central desde 1959; um brasiliense como todos nós.

3 comentários:

Unknown disse...

É propriedade de quem? Dos artistas, do IPHAN, dos 'entendidos de arte'? Se as pessoas que frequentam a Igrejinha diariamente não tem voz, porque os outros terão? E a parte legal? Até onde vai a autonomia do IPHAN? Como foi feita a escolha do artista e da obra? Outros artistas também apresentaram seus projetos? Quanto custou? Pelo que eu saiba, a Igreja foi dedicada à Nossa Senhora de Fátima por uma graça alcançada pela família do Presidente JK. Portanto, ela foi idealizada como um Templo Religioso sim, o que persiste até hoje. O tombamento é para cuidar da sua preservação e não para interferir, sem anuência dialogada com a comunidade que a mantém diariamente e a frequenta.Simples assim.

titio disse...

Bem, eu nasci em Brasília e voto pelas mudanças. Ponto. Quem não nasceu aqui ou ajudou a costruir a capela, não tem direito a voto. Ponto. Coisa chata essa discussão. Alguém aí fez alguma coisa para retirar o Roriz do GDF? Alguém aí fez alguma coisa para tentar "frear" a migração predatória que ele criou? Alguém aí acha bonito ser feio igual aos flanelinhas e mendigos (supostos) que aterrorizam a cidade e seus cidadãos? Alguém aí? Alguém aí? Alguém aíííííííí................Pois é. Eu fiz tudo isso e faço ainda muito mais. Não adianta só ajoelhar e rezar. O mundo é enxergável é físico, depende do toque de ações. Graças a Buda, Deus, Orixalá e, principalmente a Exú. Guardião disso tudo aqui. inclusive da sua orelha quente. Att

Anônimo disse...

CHEGA! de "panelas", é panela da Globo, panela do SBT, daqui, dalí, panela de Brasília, panela de JK, panela da política, panela... panelas.... cadê a democracia?! a opinião de todos? façam um concurso para artístas de Brasília, e deixem um ser escolhido pelo povo!...
Apesar do comentário estar atrazado, sinto muito...