Por Luis Turiba
Stop! A vida parou ou foi o avião.
É assim. Quando cai um avião a vida pára. Avião não foi feito pra cair. Nenhum avião, especialmente um Airbus da Air France, com 228 pessoas a bordo, entre as quais sete crianças e um bebê. Todos nós que viajamos de avião, estamos atordoados no dia de hoje, pois de uma maneira ou de outra estávamos também naquele vôo que desapareceu num mar revolto, depois de terríveis momentos de turbulência, no meio do oceano Atlântico, entre o Brasil e a África.
Acordar com uma notícia assim é duro, rasga o nosso peito. Faz a gente pensar na fragilidade da vida, em coisas do passado, num futuro que talvez não venha, seja interrompido.
Por exemplo: viajar na primeira classe de um vôo da Air France entre o Rio e Paris aconteceu comigo. Não me perguntem como, pois até hoje não sei. Na época, era assessor de imprensa do ministro Gilberto Gil no MinC e ia para a abertura do ano do Brasil na França, em março de 2005.
Estava acompanhado do cineasta André Luís Oliveira, que iria documentar com sua lente mágica a exposição de abertura do grande evento, com milhares de peças ancestrais dos índios brasileiros no Grand Palais.
Pra variar, chegamos no guichê esbaforidos com um atraso de um vôo entre Brasília e Rio. Despachamos, pegamos o ticket e zarpamos para o avião, um super Jumbo que flutua no ar. Ao entrarmos, a aeromoça nos indiciou a escada para subirmos ao segundo andar. “S'il vous plaît, Messieurs...” disse ela com aquele cantado parisiense.
Não dava pra acreditar, mas era verdade. Uma ordem divina, quem sabe vinda do Itamaraty, nos colocou no paraíso. Bem na frente do segundo andar, vendo o vôo de frente. Uma poltrona que virava cama, mesa e quem sabe até banho. Computador e TV com 40 canais a nossa disposição. Champagne! du champagne, oui Madame, merci Madame, bonne nuit Madame, merci!
Como posso esquecer do sopro daquela aeromoça francesa, bem baixinho, no meu ouvido esquerdo, perguntando se queríamos jantar. Aquilo não era uma consulta – era uma canção. La Vie en Rose.
É bem verdade que quando chegamos no Charles De Gaulle, minha mala não havia embarcado. Mas foi o de menos. Malas desaparecem (e aparecem) em qualquer aeroporto do mundo. E tudo vale a pena se a alma não é pequena, principalmente porque na chegada, Paris toda coberta com um manto de nuvem clara, só deixando do lado do fora a ponta da Tour Eiffel brilhante sob aquele sol do começo da primavera. Que visão privilegiada, olhar de sonho.
Mas agora me ponho a pensar: podíamos não ter chegado. Podíamos ter ficado pelo meio do caminho, no meio do oceano Atlântico, entre Fernando de Noronha e a Ilha do Sal, em Cabo Verde. Aí, tantas coisas teríamos deixado de viver.
E é isso que agora está acontecendo. É esse o karma coletivo que temos de enfrentar. A angústia da notícia, o desespero da confirmação, a saudade dos que não chegaram a Paris, o pânico dos que embarcaram seus entes queridos, laços que reforçarão para sempre a amizade, já eterna, entre os povos brasileiro e francês, amores interrompidos, futuro desperdiçados, explicações não cabíveis.
Oh mar, misterioso mar, responda-nos por favor: onde estará o avião que estava no ar?
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3 comentários:
É meu irmão émuito duro perder a véia desse jeito. Meus arranjos sinfonicos do Renato Russo que ele regeu divinamente, na voz de Célia em um Aniversário de Brasília, é minha lembrança do respeito e do carinho que ele tinha para com todos os artistas da cIdade e fora desse esquadro profissional o amigo carinhoso, brincalhão, sacana que gostava de viver e celebrava a existencia com muito trampo e com a trampa sinfonica, banda muito maneira que ele montou! Sílvio não Morreu, permanece com a gente no nosso coração e no coração de Brasília, Viva o Sílvio!
Meu querido amigo Turiba, o choque pelo ocorrido é enorme, em si, ainda mais sabendo agora desta terrível notícia de que o nosso grande artista Sílvio Barbato estava no vôo.
Abraços
Sylvia Cyntrão
Stop. A vida parou ou foi o automóvel? Foi o avião. Há dois dias, aconteceu o acidente e até agora nenhum navio chegou ao local. E nós choramos por quem se foi, por quem ficou e por todos nós - seres transitórios. Só a poesia nos consola. Mundo, mundo, vasto mundo, mais vasto é meu coração. Amém, Drummond.
Amneres
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