Omar Franco, artista plástico
Está na hora de esclarecer alguns aspectos inerentes à arte e à cultura, quando a pedido de carolas, trazem à cena o Ministério Público Federal para salvaguardar suas vontades e desejos de ver fora das paredes da Igrejinha uma obra de arte autêntica e de valor inestimável, tanto do ponto de vista estético, quanto pelo valor social/cultural que o artista Galeno representa.
A Igrejinha não é propriedade particular dos seus fiéis frequentadores, que lá encontram espaço para o exercício de sua fé. Ela pertence a todos os brasileiros. Ela é parte de um todo. Ela é maior do que a população que a circunda e dela se apropria. O trabalho de arte, que nela está sendo feito, transcende a existência imediatista dos seus frequentadores.
Dessas paredes já foram retiradas as pinturas do genial Alfredo Volpi. Foram vilipendiados os azulejos de Athos Bulcão, transformaram seus arredores em mictórios fétidos. O desejo de retornar as cores azul e branco das paredes refletem muito bem o vazio existente na cabeça dessas pessoas. A igreja católica foi o maior mecenas que humanidade já conheceu. Se esqueceram da Capela Sixtina?
Quem conhece um pouco de semiótica sabe o poder que a imagem tem. A arte é reflexo imediato de uma ação cerebral criativa. O que mais nos aproxima de Deus do que a nossa capacidade de criação? Seria conveniente substituir a obra do Galeno por uma N.S. de gesso? Como ousam destruir o que não conhecem? Essa atitude tomada por pessoas, contrárias ao trabalho tão bom e honesto que vem sendo realizado pelo Francisco de Fátima Galeno (nascido em Parnaíba, Piauí, em 13 de maio de 1956, mesma data em que nasci) nos devolve à penumbra, à escuridão, às trevas e ao obscurantismo recente da nossa história política, quando os poderosos chamavam a polícia para resolver querelas que contaminavam seus interesses particulares comezinhos.
Não é possível em uma cidade como Brasília, cercada de arte por os todos lados e tombada pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, se submeta a uma minoria ignorante, limitada e poderosa, sem argumentos, acione o Ministério Público Federal, já sobrecarregado, para se meter numa ação de poucos, que novamente se dispõem a dar um grande chute na Santa, mas dessa vez, como fogo amigo, dando um tiro no próprio pé.
Brasília, 10 de junho de 2009.
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4 comentários:
Prezado Turiba,
Depois de ter visto a já esperada reação do Ministério Público em relação ao pedido de algumas das senhoras que freqüentam a Igrejinha de Fátima, não pude deixar de compartilhar com o amigo uma história que não sai de minha cabeça, e que acredito estar imbricada às atitudes de algumas delas, afinal de contas, somos o resultado da forma como fomos moldados por nossos pais, pela vida e por nossas escolhas.
Lembro-me sempre da história de Monteiro Lobato criticando Anita Malfatti em 1917 - força impulsionadora ao movimento da semana de arte moderna de 1922; já se vão 87 anos e nossa sociedade continua ligada ao realismo, ao clássico ao parnasiano. Relaciona-se mais com a forma do que com a cor; é pouco sensível! Culpa de quem? De nossa educação? Da falta de espaço em colégios para o estudo da arte? O que é mais necessário para uma criança em sua vida? Saber qual a raiz quadrada de 789 ou ser sensível para se relacionar com o meio que está à sua volta? Hoje, mesmo depois do esforço do Iphan em tentar manter a tela no país, termos o Abaporu de Tarsila do Amaral na Argentina, demonstra o quanto a nossa sociedade - infelizmente - optou pela raiz quadrada de 789. Grande parte do Brasil não tem intimidade com a arte, com algo sensível à alma, daí a associação inevitável com esta situação! Muitos não gostam sem ao menos saber o porque, não gostam porque não foram ensinados a compartilhar. O espaço público é a extensão de suas casas, ou da falta de espaço de suas casas....O que será que Nossa Senhora de Fátima deve estar achando disso tudo?....se o teto da igreja não caiu, entendo, deva estar gostando! Me sinto lisongeado de ter proporcionado, com a minha escolha, nova discussão e envolvimento da sociedade em geral em torno do fato. É o momento do outro lado se manifestar! Onde estão os professores de arte de Brasília, artistas e alunos? Onde estão todas as pessoas que choraram felizes em recuperar aquilo que nunca haviam visto e aquelas que tiveram a oportunidade de se relacionar com a obra de Volpi?
Prezado Omar, obrigado pelas palavras de apoio ao Galeno!
Rogério Carvalho
Arquiteto e autor do projeto de restauro da Igrejinha de Fátima
Prezado Rogério,
muito obrigado pelo seu comentário e pelo apoio dado ao artigo do Omar Franco.
Sinceramente, ficou muito feliz pelo BLOG está cumprindo sua missão de espaço público para o debate sobre este ato de censura de pessoas retrógradas.
Hoje publicarei carta do poeta Nicolas Behr publicado sobre o caso
Estamos juntos,
bricabraços
turiba
Prezado Rogério,
muito obrigado pelo seu comentário e pelo apoio dado ao artigo do Omar Franco.
Sinceramente, ficou muito feliz pelo BLOG está cumprindo sua missão de espaço público para o debate sobre este ato de censura de pessoas retrógradas.
Hoje publicarei carta do poeta Nicolas Behr publicado sobre o caso
Estamos juntos,
bricabraços
turiba
Realmente a "Igrejinha pertence a todos os brasileiros. Ela é parte de um todo. Ela é maior do que a população que a circunda..." Se isso é uma verdade, então por que será que os brasileiros não participaram efetivamente da escolha do artista? E de qual obra gostariam de ver na Igrejinha? Que democracia é essa? Quem decidiu que seria esse o artista? Como foi feita essa escolha? Mas se a Igrejinha pertence a todos os brasileiros, por que essa crítica preconceituosa com as senhoras da comunidade chamando-as de 'carolas'? Carolas não tem opinião? Não podem se expressar? Se a opinião da comunidade que realmente frequenta a Igrejinha não pode ser externada, por que deveríamos ouvir e aceitar a opinião do IPHAN, dos arquitetos e dos 'críticos de arte'? Por que uma opinião tem mais valor que a outra? Não são todos brasileiros? Quer dizer que as 'carolas' não tem gosto? Ou que o gosto do povo é antiestético? Ainda bem que o Ministério Público entende que as 'carolas' são brasileiras e têm o direito de se expressar e lutar por aquilo que acreditam, da mesma forma que você, um poeta, um jornalista que certamente encontra muitas pessoas que gostam ou desgostam daquilo que você escreve e faz! Deixe a democracia avançar e fluir nesse País tão carente disso! Você, como Jornalista, está sendo contraditório e da maneira mais preconceituosa que não combinam com suas poesias e sonhos! Menos adjetivos e mais lógica, Turíbio!
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