O maestro Silvio Barbato estava montando uma ópera baseada na obra de Renato Russo para o cinquentenário de Brasília. Ele estava no vôo da Air France que desapareceu na noite passada na travessia do oceano Atlântico
Por Luis Turiba
Fotos por J.R. Neto e Eraldo Perez - Foto Agência
Nosso último encontro foi durante a montagem da ópera "A Flauta Mágica" do projeto SESC Sinfonia, em agosto do ano passado. Conversamos bastante, depois resumimos tudo nesta breve entrevista publicada na Revista Fecomércio.
MAESTRO ANTENADO COM O POVO
O maestro Silvio Barbato sonha em montar uma ópera baseada na obra do roqueiro-poeta Renato Russo. Será algo sinfônico, mas extremamente brasiliense. Quer apresentá-la em 2010, por ocasião dos 50 anos da capital.
Barbato é carioca, discípulo do maestro Claudio Santoro. Desde 1985 é Maestro Estável do Corpo Artístico do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde regeu as principais produções das últimas décadas. Mas tem um pé em Brasília, onde dirige e rege o SESC Sinfonia.
"Ganhamos o mundo, mas morremos de saudade de Brasília. Me lembro dos conhaques que bebi com Renato Russo em Ipanema falando da cidade, da sua gente e de suas coisas", conta. Neste bate-papo, ele fala de sua criação e da ópera Renato Russo
1- Maestro Silvio Barbato, suas experiências sinfônicas são muitas. Já regeu samba para mestre Jamelão da Mangueira e para a Velha Guarda da Portela e também para roqueiros e cantores populares. O que significa quebrar todas essas barreiras?
Eu sou uma pessoa muito antenada no som das ruas. Você pode me encontrar num ensaio da Mangueira, num bar underground de Brasília ouvindo uma banda nova, ou numa praça na Itália ouvindo um músico de rua tocar. É daí que eu tiro a minha inspiração, é com estas idéias que me retiro pensando no meu estúdio na Gávea. Minha música e meus projetos nascem no meu piano e numa caminhada por uma cidade qualquer do mundo.
2- Como está sendo sua experiência à frente do projeto SESC Sinfonia? O que significa levar uma orquestra e uma ópera para 30 mil pessoas como aconteceu com "Carmem" na Torre de TV?
O SESC Sinfonia é um projeto de ponta, que pode ser comparado aos grandes projetos de divulgação e democratização, da realização e do acesso à música em diversos países. No Brasil, o único projeto que se assemelha ao nosso é o Projeto Aquarius do Rio,que já tem mais de 30 anos. O SESC Sinfonia nasceu em Brasília e é uma oportunidade especial para os artistas da cidade e para o público. Quando fazemos uma ópera como a Carmen, são cerca de 300 profissionais trabalhando, entre produção, montagem, cenotécnicos, cantores, músicos, e artistas de diversas áreas. E este público maravilhoso: 30 mil pessoas curtindo a cidade, o céu, a lua, a música. No final o aplauso é para todos que se mobilizaram. Quando a gente recebe os aplausos, a gente tem é que aplaudir de volta, porque é a cidade toda que merece o aplauso.
3- Como está sendo sua parceria com essa instituição multicultural que é o SESC?
O SESC DF possui em seus quadros profissionais e técnicos altamente preparados o que proporciona condições de trabalho excepcionais. E não poderia ser diferente: um projeto deste porte, totalmente voltado para a comunidade exige disciplina e precisão cirúrgica. Trabalhar com o SESC Sinfonia é fascinante. Estamos na vanguarda de todos os projetos similares em escala mundial.
5- E Brasília...O maestro sente saudades? Pensa em montar algum trabalho novo e experimental para celebrar os 50 Anos desta cidade fantástica?
Na verdade a gente que deixou Brasília pra ganhar o mundo, mas morre de saudade. Me lembro quando eu e o Renato Russo tomávamos um bom conhaque em Ipanema, era inevitável lembrarmos de Brasília. Era um pouco um discurso de saudade e um pouco de desterro, de exílio mesmo. Tenho o sonho de gravar o Renato Russo Sinfônico, e de terminar a ópera que começamos a pensar juntos. Quem sabe, fazer a estréia em 2010 na nossa Brasília tão amada.
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3 comentários:
Ana Cristina Vilela escreveu:
"Todos muito sentidos, Turiba, com a perda.
Os membros da Orquestra estão reunidos agora.
Segundo o violoncelista Ocelo Mendonça, o "maestro era muito querido". Estão todos muito sentidos.
E já preparam uma homenagem.
Abraço,
Ana.
Adriano Lopes, da revista Roteiro escreveu:
Meu amigo,
Entristecido, como você, com o que o destino reservou ao maestro Sílvio Barbato, e aos demais passageiros e tripulantes do vôo 447 da Air France, pensava na melhor maneira de homenageá-lo na próxima edição da nossa Roteiro quando me chegou o seu texto, enviado pela Ana Cristina Vilela, com o relato de seu último encontro com ele. Se você me permitir, vou reproduzí-lo, dele extraindo apenas o que já estiver datado. A versão que preparei para ser publicada está anexa.
Aguardo seu ok.
Um grande abraço,
Adriano.
Eraldo escreveu:
Oi Turiba,
Muito legal.
Uma homenagem merecida para uma grande perda.
O blog esta muito legal, em cima do fato.
Parabens.
Inclusive, sabe onde estou.
Estou em Fernando de Noronha cobrindo o acidente.
abs,Eraldo Peres
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