"5 x favela" - filme retrata as "brutalidades-jardim" das modernas comunidades cariocas
Luis Turiba
O manjado mais ainda eficiente "perdeu, playboy, perdeu" está lá. Também o desumano "micro-ondas" com o mórbido ritual do banho de gasolina e o ato simples e objetivo do palito de fósforo acesso. Um corpo vira fogueira.
O som circular do funk como uma sirene-pancadão avisa que o baile vai começar e as poposudas se colocam a postos para sacudir as ancas descendo e subindo, pra frente e pra trás. A PM corrupto à serviço do tráfico e o estudante gente boa que faz "avião" para conseguir terminar seu curso de Direito.
Enfim, são cenas desse especial jeitinho brasileiro de levar à vida nos morros cariocas. Fragmentos daquilo que o tropicalismo genialmente chamou de "brutalidade-jardim", na música de Capinam e Gilberto Gil. Tudo filmado por diretores e atores das próprias comunidades. São cinco histórias independentes, mas complementares.
O filme "5 X favela – Agora por nós mesmos", coordenado pelo diretor Cacá Diegues e pela produtora Renata de Almeida Magalhães, estreou sexta-feira passada (27/08) e numa sala do shopping Pátio Brasil, em Brasília, sessão das oito, éramos seis pessoas para 200 lugares. Mas todos vibramos, rimos e choramos, torcemos para que tudo acabasse bem naquela confusa ceia de Natal no ponto mais alto da favela. Na verdade, o filme tem um quê educativo para quem deseja conhecer um pouco mais do Brasil que surge por trás das guerras entre quadrilhas de traficantes armados até os dentes e que transloucadamente tomam hotel de luxo na alta zona sul do Rio de Janeiro.
Coincidência ou não, no mesmo dia em que "5 x favela" tomava as telas do país com direito a chamadinhas na novela das sete da TV Globo, o caderno "Ilustrada" da Folha de SP publicou na sua capa uma paisagem de uma favela carioca pintada pelo poeta-cantor Bob Dylan, que exporá cenas brasileiras na National Gallery da Dinamarca. Parece que nossas favelas estão virando grife lá fora.
Tanto é que o filme coordenado por Cacá chegou botando banca no Festival de Cannes e venceu o Festival de Paulínia, em Sampa. Ou seja: "podem me prender/ podem me bater/ mas eu não mudo de opinião/ daqui do morro eu não saio não", cantou Zé Keti.
No dia do lançamento, Cacá ocupou a capa do "Segundo" de O Globo elogiando FH e Lula e pregando a união do PT com o PSDB. Uma tese que Gilberto Gil já defendia quando era ministro da Cultura de Lula e que concordo plenamente pelo utopia que traz no seu conteúdo. Disse o Cacá sobre o assunto:
"PT e PSDB? Não existe nada mais parecido do que um com o outro. E se completam. Poderíamos ter na América Latina, pela primeira vez, uma união de forças que aliasse direitos humanos e liberdades à questão social, prioritária. Benefícios com liberdade. Coisa rara na histórica do continente."
Cacá critica os três candidatos à presidência, pois até agora não falaram sobre programas e projetos culturais: " Estamos a pouco mais de um mês das eleições e até hoje nenhum dos candidatos disse uma palavra sobre cultura. Nem na propaganda, nem nas entrevistas, nem nos discursos, nem nos programas políticos na internet. Não tem uma porra de um palavra cultura. O Sarkozy quase se estrepou por causa disso."
No final elogiou Lula: "Ele devolveu a compreensão simbólico do Brasil. Pode estar falando a maior besteira do mundo, mas se interessa por aquele negócio. Isso nos traz de volta a nós mesmos e ao que podemos fazer sem deixar tudo nas costas do Estado. Na favela vejo isso. A construção do futuro. Confio muito nas ONGs locais, instituições como a CUFA, o Afro- Reggea, o Observatório de Favelas, o Nós no Morro. Reúnem a comunidade, fazem dela um corpo social e cultural vivo, estimulam o gosto pelo futuro."
Bacana, Cacá, valeu a consideração. Ou como se diz lá no morro: "na moral...."
Um comentário:
Turiba, li seu artigo sobre 5x favela, está ótimo. quero ver o filme.
li também o da Miriam Leitão. Sinto muito, mas sinceramente prefiro o Delfim Netto na Carta Capital. Ele tem outra visão sobre a realidade econômica do Brasil. Muito, mas muito melhor, que a da minha conterrânea e contemporânea Miriam Leitão. Não tem comparação. Onde é que ela tirou que "as políticas do Lula são imprudentes"? Se tudo o que ele fez e faz deu e dá resultado. Saimos da crise melhor do que entramos. A Miriam parece um urubu agourento. Francamente! Criticar com fundamento eu aceito, mas inventar argumentos não dá.
Romário
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