Brasília vive desde quinta-feira um ciclo de festas de ruas. O povo e a juventude aproveitam o tempo de estiagem e ocupam quadras, praças, calçadas.
Na 312 Norte, por exemplo, foi realizado na quinta-feira a 25º Noite T-Bone Cultural, com patrocínio da Petrobrás. Mais de cinco mil pessoas dançaram ciranda, forró, samba e xaxado ao som do mestre pernambuco Antônio Nóbrega até quase meia-noite. E pensar que tudo nasceu no Açougue Cultural T-Bone. Genial!
Sábado foi a vez do Café da Rua 8, na 408 Norte, realizar a Festa da Independência. Desta vez, todos homenagearam o motoqueiro carcará Laurinho, que faleceu dia 7 de setembro.
A cantora Ana Magalhães, que veio do Rio de Janeiro especialmente para interpretar canções de Noel Rosa, sua especialidade, fez uma belíssima homenagem ao Laurinho, interpretando um texto de Horácio Ferres, musicado por Astor Piazzolla. O café parou, todos nós ouvimos e depois aplaudimos a valer o recital de Ana Magalhães. Eis para vocês o poema de Horácio Ferres...
BALADA PARA UM LOUCO
Astor Piazzolla e Horácio Ferres
Num dia desses ou numa noite dessas,
Você sai pela sua rua ou pela sua cidade ou...
Sei lá, pela vida, quando de repente
Por detrás de uma árvore, apareço eu!!!
Mescla rara de penúltimo mendito
E primeiro astronauta a por os pés em Vênus,
Meia melancia na cabeça,
Uma grossa meia sola em cada pé
As flores da camisa desenhada na própria pele
E uma bandeirinha de táxi Livre em cada mão
Ah, ah, há!!! Você ri...você ri por quê
Só agora você me viu
Mas eu flerto com os manequins
O semáforo da esquina me abre três luzes celestes
E as rosas da florista estão apaixonadas por mim, juro!
Vem, vem, vamos passear
E assim meio dançando, quase voando
Eu te ofereço uma bandeirinha e te digo:
Já sei que já não sou, passei, passou
A lua nos espera nesta rua, é só tentar
E um coro de astronautas, de anjos e crianças
Bailando ao meu redor, te chama: vem voar!!!
Já sei que não sou, passei, passou
Eu venho das calçadas que o tempo não guardou
E vendo-te tão triste, te pergunto: o que falta?
...Talvez chegar ao sol..
- Pois eu te levarei!!
Ah! Ah! Ah!
Louco, louco, louco, louco! Foi o que me disseram
Quando disse que te amei
Mas naveguei nas águas puras dos teus olhos
E com versos tão antigos, eu quebrei teu coração
Ah! Ah! Ah! Ah!
Louco, louco, louco, louco, louco!
Como acrobata demente saltarei
Dentro do abismo do teu beijo até sentir
Que enlouqueci teu coração, e de tão livre, chorarei.
Vem voar comigo, querida minha,
Entra na minha ilusão super-esporte
Vamos correr pelos telhados
Como andorinha no motor, ah! Ah! Ah!
Do Vietnam me aplaudem: Viva! Viva!
Viva os loucos que inventaram o amor!
E um anjo, um soldado e uma criança
Repetem a ciranda que eu já esqueci...
Vem! Eu te ofereço a multidão
Rostos brilhando, sorrisos brincando.
Quem sou eu? Sei lá, um....tonto, um santo
Ou um canto a meia voz.
Já não sei quem sou, nem seu quem sou
Abraça esse ternura de louco que há em mim.
Derrete com teu beijo a pena de viver
Angústias, nunca mais!!!!
Voar, enfim, vooooaaaarr!!!
Ama-me como seu sou, passei, passou
Sepulta os teus amores vamos fugir, buscar,
Numa corrida louca o instante que passou
Em busca do que foi, voar, enfim, vooooaaaarrr!!
Ah! Ah! Ah! Ah!
Viva! Viva os loucos, Viva!
Viva os loucos que inventaram o amor,
Viva! Viva! Viiiiiiva!
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