Luis Turiba
O poeta continua caminhando, caminhando e caminhando e assim construí seu poema alado ao lado do seu companheiro, o cajado.
Aqui, você vai ler as cinco partes que faltavam do poema "O Poeta Andarilho e seu cajado alado". Para ler o início do poema, vá nas postagens de cinco dias atrás.
Curtam e comentem
Libertário
enquanto as pernas pensam
a cabeça voa
os músculos se esticam
caminhar é pisar chão
sem pisá-lo de antemão
meu cajado calejado
por mãos tão delicadas
é tinta de apoio à frases
de faces descarimbadas
esticar as pernas
é acordar espermas
e isso me desespera
despertai libertinos
junto a mim moram os livros
vizinhos livres tão vivos
meu cajado é libertário
temos quase a mesma altura
caminhamos em paralelo
olhando o mundo às avessas
ele à frente, eu mais atrás
a gente quase não se encontra
seguimos a passos avulsos
plugados à lei do impulso
cobertor é muito curto
tento até levar um papo
nem te ligo é surdo é mudo
falo dos conflitos étnicos
xiiitas semitas e curdos
ele nem se desconjura
tento a alta das taxas de juros
o danado dá de lado
é zen é revigorado
não joga na bolsa, em nada
come arroz integral
e só toma decisões
pra pecados ou pra afins
após consultar o i ching
manipulo o meu cajado
como samurai a sua espada
rasgando o silêncio do vento
ou será o meu cajado
que distancia minha mente?
Naturezo
quanto mais leve o fardo
mais farta é a levitação
a cada passo
um descongelamento
de um futuro avivamento
o bom da morte
é a inacessível condição
de cerimônia de passagem
deixa tudo em suspensão
no mergulho fascinante
compromissos amores certezas
e as contas a pagar
tal qual porto
ou parto
o céu azulindo
faz sorrisos colorrindo
a terra molhada
cheira a vermelho
o cio da terra é centelha
alegra os formigueiros
o clima de deserto me seca
o grão da areia onde pesco
o canto encontra a cachoeira
onde me afresco
é seca
falta H2O sobra pó
ar puro de eucaliptos
aroma de ritmos
Zumbições
toda estrada tem murmúrios
sinfonias pneumáticas
rugidos rumores
freadas arrancadas
solos de motores
um coro de buzinadas
uma jamanta arisca
atropelou meu coração
foi uma amor contramão
amor à primeira pista
pista de pouso
pista de dança
pista de prova
pista do crime
pista do meio
são tantas pistas na estrada
que também perdi meu freio
é triste da gente ver
uma carreta enguiçada
na beira da rodovia
tal qual cobra matada
a pau a pedra a má sorte
a cabeça ali exposta
vitória da dona morte
galhos secos cercam em volta
dão o tom do funeral
Parafrutos
ao caminhar
aumento minha coleção de parafusos
enferrujados expulsos dos caminhões
rolam sempre pra contra-mão
acho-os e cato-os
para voltar a enterrá-los
em covas de árvores profundas
são excelentes nutrientes
nada mais sem razão
que parafusos sem porcas
pra desparafusar as portas
desparafrizar as frases
desparafiar as voltas
desparafrutar os frutos
parafusos dão as costas
a toda rosca quié esnobe
olho o visual do pasto
pulsares de verdes me avivam os olhos
cabeleiras de mato alto
dançam verdiabruras ao vento
é a percussão da natureza
verde como o tempo
Péspedra
diabitos experimentais
empurram-me para fogueiras existenciais
pisco em brasas
queimo consciências
algo arde na farda
da minha carne anêmica
é a chegada?...
qual nada!!!
um mar de borboletas me nuveia
o chuá do rio tem o som de valsa
o grilo lá no mato faz sua ronda
uma buzina lambe meu celular
sonhos são ventos que não param
e se a nuvem secasse sem chover?
e se a luz me cegasse por você?
assim na manhã de um anoitecer
uma simples maçã a amadurecer
toda caminhada ensina
a ter a física disciplina
até que o sangue afine
procuro o ar
o ar não há
no estica e puxa
teso os músculos
o suor pinga
é longa a marcha
que leva à China
top não é stop
do topo do morro ao pé da serra
sigo passarinho entre os pingos da chuva
olho o mundo
com a sola dos meus pés de terra
e sangro:
sou discípulo da pedra
FIM
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Um comentário:
Grande produção Turiba, poema inteiro, poema em partes, grande poema!
Gosto das suas procuras por rimas ritmicas, também desse quê filosofia que a poesia boa sempre tem.
Parabens!
Beijo
Bic
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