"Caminhante não há caminho. Se faz caminho ao caminhar".
Assim o fiz e descobri que há poesia sim no caminho e ao caminhar você pode até fazer nascer um poema na sua mente-caderno errante.
O poeta japonês Matsuó Bashô (Senhor Bananeira, nascido em 1644) viajou, a pé, em sua vida errante, por todo o Japão agreste e agrário, atrás de luas, lagos, templos dentro de florestas, buscando o vagalume do haikai.
Vá devagar que você chega lá: a lugar nenhum.
Turiba
O poeta andarilho e seu cajado alado
Luis Turiba
Sigo
passo a vida por um rio
assim como a Portela na avenida
lavo-a enxáguo-a chuleio-a
levo-me leve em vôos sem lei
meu fio terra é madeira de fibra
sou andarilho
portanto
com (par) trilho
meus pés zeram a mente
piso o passo dos que passam
pé pós pé pós pé pós pé
até não mais prosperar
sigo a sina dos sem-cisma
tendo ao lado meu cajado
alado e desconfiado
um fariseu distraído
afável & aviolado
companheiro
dos meus pés cansados
das letras vivas dos passos
das pernas tortas do corpo
das caminhadas infindas
do porte atlético e ereto
enquanto caminho
menos é mais
aperto chacoalho sucumbo
até só sobrar
o que não soçobrou
busco a essência dos sistemas
tiro as porqueiras das emboscadas
passo acima de zilhões de formigas
congestionamentos túneis avenidas
assembléias passeatas estádios
verdadeiro sistema viário
todas ao trabalho
um formigário ativo
e formigável
pulo sem machucá-las
sigo
crio novas pontes
e na terra à vista
abro picadas pelas pistas
dou linha à pipa
dou de bico
caio nas armadilhas
sem ter medo dos perigos
dessas trilhas
sou também uma formiga
um bonde da existência
nos trilhos dos descaminhos
salto e sigo
descalço dos meus encalços
pisando com meu cajado
na estrada rumo a riba
as expressas, os estribos
pelas trilhas gramas terras
que beiram a BR-criptica
sonhos senhas
sedes credos
scripts santos ao sol
flores filtros
afloram o céu
cada passo um destino
cada ritmo uma rotina
caminhada é teimosia
mas sim, sigo rumo ao fim
mesmo pisando desvios
sinto o som da sinfonia
buzinas arranques freios
sanfonas em surdinas
motores desafinados
entre gritos e silêncios
Parceiro
o homem é o homem
seu cajado e seus sapatos
o homem não é só
seu par de tênis:
é anthenas de athenas apenas
faço alongamentos
estico pensamentos
espalho-os ao vento
refazendo musculaturas
como pipas de idéias
como rabiólas poéticas
sigo alquimista
construindo amálgamas
profecias e sátiras
sobre o absolutamente Nada
cada batida no chão
uma nova reflexão
todo rabisco é um risco
manipulo o meu cajado
e ele me faz seu escravo
somos bússolas
pra todos os lados
rodopio-o na mão e dou impulso
girando-o sobre meu próprio vulto
fazendo-o minha santa lança
na peleja contra o inimigo oculto
seguimos como um par
na rotina da nossa dança
(pra que inimigos
se ouço o canto das cigarras
o perequear dos sapos
o tiritilar dos periquitos
o água-rola dos rios sorrindo?)
e sigo
a trilha dos que estão vivos
secretos signos terrestres
nos dormentes dos terrenos
quem não guerreia
não semeia a paz
6 comentários:
Bashô sabia que nos seres inanimados, na natureza, iria encontrar fórmulas de intensa piedade poética. E preferiu associar-se a tudo que era sensivel ou inanimado que passava ao seu ado para integrá-lo imediatamente à sua poesia.
Um doce ruído
interrompe meu sonho:
gotas de chuva sobre a folhagem
(Bashô)
obrigado Juva, pelo carinho do hai-kai
noite escura
súbito clarão
noite mais escura
Meu bric-abraços
Amigo, tentei postar um comentário no blog mas não consegui, acho q está com problemas...mas...
Obrigada!!! que belas imagens de um coração... “descalço dos meus encalços” é um verso impressionante.... só para citar um dos muitos que me encantou, desse poema.
Aliás seu texto-convite é -desde ele- um poema.
Beijos!
Sylvia e fã
Valeu Turiba... voce aliazz... sempre levou um jeitao meio parecido com Don Bananera... Abrazzone zzzuca
-
Valeu Turiba... voce aliazz... sempre levou um jeitao meio parecido com Don Bananera... Abrazzone zzzuca
-
Turiba, que bom receber essas graças poéticas , li e vou lendo seus caminhos e ninhos.
abraço
paco
Postar um comentário