domingo, 20 de março de 2011

OBAMA TIRA ONDA NA FALA SOBRE BRASIL NO TEATRO MUNICIPAL

EUA e Brasil têm de ser 'parceiros iguais', diz Obama no Rio

Ele fez discurso descontraído e arranhou português no Theatro Municipal.
Parceiros não devem ter relação de 'sênior' e 'júnior', disse presidente.

Do G1, em São Paulo

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse neste domingo (20), em seu pronunciamento ao povo brasileiro, que EUA e Brasil não devem ser parceiros "sênior" e "júnior", mas "parceiros iguais".

A declaração foi feita no pronunciamento de Obama ao povo brasileiro, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Obama começou o discurso em um clima informal, arriscando-se a dizer "Oi, Rio de Janeiro!", "Alô, cidade maravilhosa!" e "Boa tarde a todo o povo brasileiro!" em um português com sotaque.

O primeiro presidente negro dos EUA agradeceu ao "calor e à generosidade" com que o povo brasileiro recebeu-o e à sua família nestes dois dias de sua primeira visita oficial ao país.

Ele brincou dizendo que "soube que tem um jogo importante de futebol" entre Vasco x Botafogo neste domingo no Rio e que "o povo brasileiro leva o futebol a sério", então agradeceu aos presentes que preferiram prestigiá-lo em vez de ver o jogo.

O democrata lembrou que sua primeira lembrança do Brasil foi ter visto o filme "Orfeu Negro", de Marcel Camus, baseado na peça "Orfeu da Conceição", de Vinicius de Moraes, quando era criança, com sua mãe.

Ele afirmou que sua mãe, já falecida. jamais poderia imaginar que sua primeira viagem ao Brasil seria como presidente dos EUA.

O presidente dos EUA, Barak Obama, fala neste domingo (20) no Theatro Municipal, no Rio (Foto: AP)O presidente dos EUA, Barak Obama, fala neste domingo (20) no Theatro Municipal, no Rio (Foto: AP)

Obama também disse que nunca imaginou que este país era tão bonito, e citou versos da canção "País Tropical", de Jorge Ben Jor, que diz que o Brasil é "abençoado por Deus, e bonito por natureza".

O americano afirmou que viu beleza tanto na natureza como nos grupos humanos brasileiros, referindo-se aos naturais de vários estados, como Rio, São Paulo e Minas.

O democrata chamou a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, de "maravilhosa presidente" e comemorou a oportunidade que teve de conversar com ela na véspera, em Brasília.

Obama disse que queria falar com o povo brasileiro sobre o que os países podem realizar juntos no futuro. Ele lembrou que as origens históricas dos dois países são semelhantes, desde a colonização até a luta contra a escravidão.

O americano lembrou que os EUA foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil e citou também a atuação conjunta dos dois países na Segunda Guerra Mundial.

"No Brasil, vocês lutaram por duas décadas durante a ditadura, pelo direito de serem ouvidos", lembrou.

Obama acena ao subir ao palco do Theatro Municipal do Rio para discursar neste domingo (20) (Foto: AP)Obama acena ao subir ao palco do Theatro
Municipal do Rio para discursar neste
domingo (20) (Foto: AP)

Lula
Mas, segundo ele, estes dias acabaram, e hoje o Brasil é uma democracia, onde "uma criança pobre de Pernambuco" pode chegar à Presidência, em uma alusão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Como havia feito na véspera em Brasília, Obama voltou a celebrar o fato de o país ter conseguido tirar "milhões" da pobreza e alçá-los à classe média.

Ele também falou sobre sua visita à comunidade da Cidade de Deus, mais cedo neste domingo, que, segundo ele, prova que é possível "resgatar do medo" regiões marginalizadas.

Obama disse que, no âmbito internacional, o Brasil saiu da posição de precisar de ajuda de outros países, e hoje é o Brasil que ajuda outros países.

Copa e Olimpíadas
Ele lembrou que o Brasil vai "receber" o mundo com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.

Obama brincou com o fato de que o Rio "não era sua cidade favorita" para os jogos. Ele torcia pela americana Chicago, sua base política, cuja candidatura foi derrotada.

Obama reiterou que o Brasil não é mais "o país do futuro", mas já colhe os frutos do desenvolvimento, e disse que o povo americano não só reconhece, mas torce pelo progresso do país.

Japão
Ele lembrou a catástrofe do Japão, atingido por um terremoto seguido de tsunami no dia 11, citando o fato de o Brasil ter uma grande colônia japonesa. Obama prometeu ficar ao lado dos japoneses até a recuperação.

O presidente dos EUA voltou a lembrar que EUA e Brasil comungam de muitos valores, como o respeito à educação e à democracia.

Ele disse que os milhões de brasileiros que chegaram à classe média não fizeram isso em uma economia fechada. "A democracia é o maior parceiro do progresso humano", disse Obama, sob palmas do público.

Obama disse que EUA e Brasil devem trabalhar em conjunto, mesmo quando estejam em discordância. "Nós sabemos que diferentes nações escolhem diferentes caminhos para a democracia", disse.

Brasil, exemplo de democracia
Ele afirmou que o Brasil pode ser um exemplo para países que, no norte da África e no Oriente Médio, lutam pela democracia, e citou países como a Tunísia, o Egito e a Líbia -que está desde a véspera sob ataque militar de uma coalizão ocidental integrada pelos EUA.

"Este é o exemplo do Brasil", disse, conseguindo aplausos. "Brasil, um país que mostra que uma ditadura pode se tornar uma vibrante democracia. Brasil, um país que mostra que a democracia traz tanto liberdade como oportunidades para o povo. Brasil, um país que mostra como o apelo por mudança que começa nas ruas pode transformar uma cidade, transformar um país, transformar um mundo."

Dilma
Falando sobre a transição do Brasil da ditadura à democracia, Obama referiu-se à presidente Dilma e ao seu passado de militância durante o regime militar.

"Filha de um imigrante, sua participação no movimento levou à sua prisão e encarceramento, à tortura sob as mãos de seu próprio governo", disse. "Então ela sabe o que é viver sem os mais básicos direitos humanos por que tantos estão lutando hoje. Mas ela também sabe o que é perseverar. Ela sabe o que é triunfar -porque hoje esta mulher é a presidente de seu país, Dilma Rousseff."

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