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Para presidente da ABL, obra 'valida erros grosseiros'
Marcos Vilaça, presidente de Academia Brasileira de Letras
Dandara Tinoco, O Globo
O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marcos Vilaça, criticou ontem a adoção, pelo Ministério da Educação, do livro "Por uma vida melhor", que aceita o uso da linguagem popular com erros como "nós pega o peixe".
— Discordo completamente do entendimento que os professores que fizeram esse trabalho têm. Uma coisa é compreender a evolução da língua, que é um organismo vivo, a outra e validar erros grosseiros. É uma atitude de concessão demagógica. É como ensinar tabuada errada. Quatro vezes três é sempre 12, na periferia ou no palácio — afirmou.
Vilaça foi enfático ainda ao comentar a declaração de um auxiliar do ministro Fernando Haddad, que ontem afirmou que o MEC não é o "Ministério da Verdade":
— Na língua, deveria ser (ministério) da verdade, sim.
No início da noite de ontem, a Academia divulgou uma nota oficial em que diz discordar da posição do ministério e que estranha "certas posições teóricas dos autores de livros".
Segundo a ABL, embora todas "as feições sociais" da Língua Portuguesa constituam objeto de análise para disciplinas científicas, o professor espera que os livros respaldem o uso da língua padrão, "variedade que eles (os alunos) deverão conhecer e praticar no exercício da efetiva ascensão social que a escola lhes proporciona".
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Responsável por livro admite mudar texto
Responsável pela produção do livro didático "Por uma vida melhor", da Editora Global, a ONG Ação Educativa admite que poderá mudar o texto, numa eventual nova edição.
É o que disse ontem a coordenadora-geral da ONG, Vera Masagão. Ela classificou como infeliz a frase que considera correto, em certos contextos, falar com erros de concordância:
— Não acho que seja necessário recolher os livros, de forma nenhuma. Eventualmente, numa próxima vez, a gente pode colocar uma frase que não gere mal-entendidos. Concordo que a frase é infeliz, ainda mais destacada do contexto.
"Você pode estar se perguntando: 'Mas eu posso falar os livro?'. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico", diz a frase criticada por ela.
Para Vera, a leitura integral do capítulo deixa claro que o foco é o ensino da norma culta da língua. O capítulo se chama "Escrever é diferente de falar".
O professor Marcos Bagno, da Universidade de Brasília (UnB), disse que não há motivo para polêmica, porque já faz mais de 15 anos que os livros didáticos de língua portuguesa aprovados pelo MEC abordam o tema da variação linguística:
— Não é coisa de petista. Já no governo Fernando Henrique, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo transforma qualquer idioma usado por uma comunidade humana.
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